António Fidalgo
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Contra os bairrismos
Os bairrismos são em regra, e sempre quando exacerbados, fruto de um
complexo de inferioridade. Foi isso que disse aqui na semana passada.
Volto de novo ao tema.
Que uma pessoa goste da sua terra é normal e muito saudável. Como as
árvores, também as pessoas lançam raízes nos locais em que nasceram e em
que vivem. Da identidade de uma pessoa, isto é daquilo que faz com que ela
seja ela mesma e não outra pessoa, o local de origem é sem dúvida um
elemento essencial. Este é o ponto de partida, e o bairrismo enraíza sem
dúvida na pertença a um local como factor importantíssimo da identidade de
uma pessoa. Só que o bairrismo desvirtua o sentimento dessa pertença a um
local, às suas gentes e à sua cultura, tal como a xenofobia desvirtua o
sentimento de pertença relativamente a uma nação, ou o racismo o
sentimento de pertença a uma comunidade étnica.
Quando os judeus junto dos rios de Babilónia se sentavam e choravam,
lembrando-se de Sião, faziam-no no sentimento de que a sua terra não era
aquela, que viviam em exílio, em terra alheia. Mas querer viver na sua
terra, estar onde estão as raízes, suspirar pelo lugar de origem perdido,
como os judeus suspiravam por Jerusalém, não implica afirmar esse local à
custa de outras terras.
Num momento crucial do desenvolvimento da região, em que se advogam
grandes infra-estruturas próprias de centros cosmopolitas, como centros de
arte, fica mal, muito mal, bater na tecla do bairrismo. Não se pode querer
puxar tudo para o seu bairro, não se pode duplicar o que o vizinho já tem,
mas unir esforços e fazer de pequenos centros, como são as três cidades da
Beira Interior, um grande centro urbano. Os egoísmos próprios do bairrismo
são contraproducentes sempre, e em particular numa altura em que as três
cidades ficarão ligadas por auto-estrada.
Importa que o amor ao local, à cidade, não descambe em bairrismo, mas se
abra a uma cooperação franca e aberta entre cidades que legitimamente se
querem afirmar, até entre si. Só que a afirmação tem de ser num espírito
de sintonia e não de desconfiança e inveja.
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