José Geraldes
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Publicidade infantil:
riscos e limites
A Suécia, país
que preside à União Europeia, pretende apresentar
propostas no sentido de ser banida dos media a publicidade para
menores de 12 anos. Esta lei já existe, há cinco
anos, naquela nação da Escandinávia.
Em Portugal, o Código de Publicidade, no artigo 14.º,
prevê restrições nos anúncios dirigidos
a menores e a anúncios com menores. A este propósito,
o Código explicita que "os menores só podem
ser intervenientes principais nas mensagens publicitárias
em que se verifique existir uma relação directa
entre eles e o produto ou serviço veiculado". A Noruega
estuda também a possibilidade de excluir a publicidade
nos livros escolares. Na Bélgica, na zona de Flandres,
não podem ser emitidos anúncios cinco minutos antes,
durante e depois de qualquer programa infantil.
A Associação Portuguesa de Direito ao Consumo (APDC)
prepara uma campanha para, durante todo este ano, mobilizar os
cidadãos contra a "exploração comercial
das crianças" através dos media.
A questão não se apresenta pacífica ao nível
dos países da União Europeia. As agências
de publicidade, por sua vez, preparam-se para contrariar as intenções
da proposta da Suécia.
Os psicólogos que estudam os efeitos da publicidade nos
menores divergem nas conclusões. No entanto, estudos feitos
em Espanha apontam para gritos de alarme. Uma frase de Rosa Veral
lança o debate: "Estamos a criar monstros ou apenas
a entretê-los".
Os homens de negócios conhecem o segredo do sucesso do
Mc Donald's. Os investigadores em Marketing explicam que a memória
emocional de uma atmosfera feliz na idade infantil leva as pessoas
em idade adulta a reviver esses momentos na compra dos produtos.
Daí o defenderem arreigadamente a publicidade antes dos
12 anos.
Os estudiosos da questão, entre nós, aduzem argumentos
pró e contra. Uns dizem que a publicidade infantil se
reduz a pura manipulação. A criança não
distingue a comunicação publicitária de
outros tipos de comunicação.
Outros consideram que a publicidade normaliza as crianças
no modo de se alimentar e de se vestir. Para uma psicóloga
universitária, o efeito mais perverso é a pressão
a que os pais ficam sujeitos depois do que os filhos vêem.
Já um publicitário defende que, afinal, "todos
estamos expostos e não só as crianças. Possuir
um objecto de marca dá estatuto social, prazer e emoção.
Não é só um problema da publicidade".
A complexidade do problema salta à vista. Cortar a televisão
às crianças pode revelar-se pedagogicamente negativo.
Permitir que passem horas e horas frente ao televisor leva a
uma fuga à responsabilidade dos educadores.
Horas a fio a ver televisão equivale a exposição
a milhares de mensagens publicitárias que muitas vezes
não são as mais adequadas. Na expressão
de uma psicóloga, "a criança é mais
passiva, porque a criança só observa e nem sempre
o que observa é adequado ao seu crescimento sócio-moral
e cognitivo".
Estamos em crer que é este o nó górdio da
questão. Os riscos são mais que evidentes. E os
pais e educadores são postos face a novos desafios que
exigem maior atenção e presença.
Uma educação gradual impõe-se de forma a
não traumatizar a criança nem a fazer-lhe "lavagens
de cérebro".
Eis um problema que, durante a presidência da Suécia,
vai fazer correr rios de tinta. Mas mergulhar na areia como a
avestruz só adia o problema. E adiar os problemas é
a melhor forma de os não resolver.
Haja, pois, coragem de enfrentar, sem ambiguidade, os riscos
da publicidade infantil.
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