Na semana passada, no final
de mais uma reunião do Conselho de Reitores das Universidades
Portuguesas (CRUP), Adriano Pimpão exigiu do governo uma
solução rápida para o problema. O presidente
do CRUP afirmou ainda que o presente panorama do ensino superior
é de ruptura financeira, não só por estar
a funcionar com "dez por cento abaixo do orçamento
padrão previsto", mas também por não
terem sido feitos os reforços orçamentais relativos
aos aumentos salariais de 2000, na ordem dos dois vírgula
cinco por cento.
O reitor da UBI, Manuel Santos Silva, concorda com a posição
do CRUP e refere que para fazer frente a esta questão,
outros investimentos, nomeadamente na qualidade de ensino, tiveram
que ser protelados. "É evidente que poderíamos
ter feito mais investimentos em meios laboratoriais, informáticos
e outros, mas não deixamos de desenvolver o nosso plano
de actividades e conseguimos fechar o ano como previsto",
afirma.
Apesar disso, o secretário de Estado para o Ensino Superior,
José Reis, defende-se dizendo que "a palavra 'corte'
não faz sentido no Ensino Superior". Para Santos
Silva a questão não se prende com a nomenclatura,
mas sim com o facto de não estar a ser cumprida a lei.
"Chamem-lhe aquilo que quiserem. A fórmula que foi
acordada entre o Ministério e o CRUP, em 1993, não
está a ser cumprida. Se é necessário rever
a fórmula de financiamento, então reveja-se",
sublinha.
Os reitores reclamam 30 milhões de contos, referentes
aos aumentos salariais de 2000 que não foram pagos pelo
Estado. "Os aumentos salariais são algo que decorre
da lei e portanto os orçamentos das universidades tem
que ser majorados durante o ano com esses aumentos acordados",
afirma o reitor.
Diálogo é
sempre possível
As possibilidades de diálogo
com a tutela não estão para já esgotadas.
Manuel Santos Silva defende que se devem tirar as máximas
potencialidades deste regime de financiamento. E afirma: "Nunca
dou por esgotadas as hipóteses de diálogo".
O CRUP pediu, recentemente à tutela a nomeação
de um grupo de trabalho para analisar em profundidade a fórmula
de financiamento. "A Lei do Financiamento não é
má e podemos melhorá-la. Ela tem várias
componentes que não foram ainda exploradas", defende
Santos Silva.
Para 2001 o orçamento da UBI cresceu, mas mesmo assim
não é ainda possível, sem utilizar receitas
próprias, atingir o rácio de 80 por cento para
despesas com pessoal e 20 por cento para o funcionamento, tal
como definido pela lei. As verbas das propinas estão,
deste modo, mais uma vez condicionadas a tapar esse 'buraco'
no orçamento, embora, refere Santos Silva, "a lei
diga que não contam para esse rácio".
A localização geográfica da UBI, assim como
a necessidade de investir na investigação especialmente
em universidades mais jovens devem ser, na opinião de
Manuel Santos Silva, factores de discriminação
na atribuição de ajudas. "Não podemos
ter um financiamento cego que só tem em conta o número
de alunos".
Estado em tribunal
Recentemente as negociações
entre estudantes e tutela foram abaladas pela decisão
das Associações Académicas da Universidade
de Coimbra e do Algarve. Os estudantes das duas universidades
vão processar o Estado por incumprimento da lei. Defendem
estes estudantes que lhes seja paga uma indemnização
de 45 milhões de contos relativos à "degradação
da qualidade de ensino" que se tem vindo a registar pela
"desresponsabilização" e "desinvestimento"
do Estado em relação às universidades. Santos
Silva é reticente quanto a esta visão. E defende
que se deve reconhecer o esforço e os investimentos feitos.
E que, apesar de haver razões para se reivindicar um maior
investimento, se deve ter em atenção a realidade
nacional. "Temos também que nos interrogar sobre
as condições que os outros tipos de ensino têm,
nomeadamente o básico, que em alguns locais do País
ainda não têm sequer aquecimento."
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