Notícias da Covilhã
- Os acessos à Torre, muitas vezes cortados devido ao
mau tempo, têm afectado as actividades da Federação
Portuguesa de Esqui (FPE)?
José António Pinto - São situações inevitáveis
que são resolvidas atempadamente pelo Centro de Limpeza
de Neves que está bem chefiado e que, para os meios humanos
que possui, trabalha muito bem.
Quanto às condições climatéricas
não há nada a fazer para as evitar. A nossa Serra
é um sítio muito complicado porque termina num
planalto sem protecção natural contra as intempéries.
Estamos muito próximos do mar, esta é uma zona
muito ventosa e a neve não cai na vertical. Às
vezes parece que nasce do próprio chão. De qualquer
modo, quando o tempo melhora, as pistas têm estado povoadas
de turistas.
NC - A Serra da Estrela
oferece condições únicas de turismo no País.
Estão a ser bem aproveitadas?
J.A.P. - Estão
a ser aproveitadas na medida das possibilidades existentes. Os
vários municípios que tutelam o território
da Serra começam a perceber a potencialidade turística
e estão a apetrechar-se para o futuro.
Manteigas e Seia, por exemplo, já têm projectos
para pistas de neve sintéticas, o que permite a prática
de esqui e outras modalidades durante todo o ano. A rede hoteleira
em redor é de boa qualidade. Por isso, não é
por causa da oferta de infra-estruturas de qualidade que as pessoas
não virão.
NC - O que falta então?
J.A.P. - Faltam guias
profissionais para acompanhar pessoas pela Serra. Faltam mais
percursos pedestres sinalizados, para que as pessoas possam passear
com segurança e muitas outras coisas.
NC - A Federação
está a fazer algo para colmatar essas lacunas?
J.A.P. - Isto não
é só um problema da Federação.
Temos que melhorar a coordenação entre todas as
entidades que tutelam as várias vertentes da Serra da
Estrela: as três câmaras municipais, o Parque Natural,
a Região de Turismo os hotéis, entre outros. Devia
haver uma cooperação entre todas estas instituições
para maximizar as potencialidades da Serra. Porque a neve é
ouro que aqui temos e que não está a ser totalmente
bem explorado.
NC - Qual seria a instituição
responsável por essa coordenação?
J.A.P. - Não
é necessário criar mais nenhum organismo, nem delegar
num dos já existentes essa tarefa. Basta sentarmo-nos
todos à mesma mesa e desenvolver um plano de acção.
Uma coisa imprescindível para o desenvolvimento da zona
turística da Serra da Estrela.
NC - Está a falar
de um plano estratégico?
J.A.P. - Sim. Porque
há várias entidades públicas e privadas
que mexem com o turismo na região. Portanto, no entender
da FPE, devia haver uma planificação conjunta porque
ainda há muita coisa a ser feita. As pistas têm
que estar limpas, os hotéis têm que oferecer as
melhores condições possíveis, tem que haver
mais informação e os desportos, quer de lazer,
quer de competição, necessitem de ser bem organizados.
NC - Quer dizer que as coisas
não estão a ser bem geridas?
J.A.P.- Gestão
há, só que por não haver uma ligação
mais próxima entre as instituições acaba
por não existir a eficiência desejável. O
turismo de Inverno é bastante proveitoso, pois é
feito por uma classe média alta que pode trazer muito
dinheiro para a região. Por isso é necessário
criar as condições que fidelizem esses clientes.
As máquinas de fazer neve já podem funcionar. E
é necessário que as pessoas do Parque Natural compreendam
que as obras que há a fazer não vão atentar
contra a dignidade da Serra. Não se vai ferir ecologicamente
o sistema. Portanto há que equipar esta zona para a prática
de turismo não apenas no Inverno, mas também no
Verão. Porque a Serra pode ser "vendida" em
qualquer altura do ano.
"É preciso acabar
com quesílias particulares"
NC - Já há
alguma proposta no sentido de se reunirem todas as entidades
responsáveis pelo turismo na Serra da Estrela?
J.A.P. - Há
muitos anos que a Federação pede uma reunião
desse tipo. Não só para tratar dos problemas desportivos,
mas também económicos. Por exemplo: é impossível
garantir o acesso durante todo o ano às lojas situadas
na zona do planalto devido à imprevisibilidade das condições
atmosféricas. E, no fim de ano, foi impossível
ter aquela zona aberta devido à neve intensa que cortou
a estrada, para desgosto quer de turistas quer dos hotéis.
NC - Há alguma forma
de contornar esse factor?
J.A.P.- O grande problema
é da zona da Lagoa Comprida à Torre. Há
grandes dificuldades de acesso que poderiam ser minoradas se
se construíssem alguns túneis artificiais e algumas
paliçadas.
Não se pode fazer críticas aos homens, porque eles
fazem o melhor com os meios que têm. Mas as coisas poderiam
correr melhor se houvesse esta coordenação entre
os organismos. O trabalho da GNR e do Centro de Limpeza, que
fazem verdadeiros milagres com o que têm, ficaria muito
facilitado.
NC - Não seria mais
fácil criar uma alternativa às pistas de esqui?
J.A.P. - O que nós
achamos, e está nos planos da Turistrela, é que
sejam construídas, não só, mais duas pistas,
mas também uma tele-cadeira que vá até aos
Lagos de Louriga para alargar a área de esqui e tornar
a zona mais atractiva. De outro modo as pessoas desanimam porque
passam mais tempo à espera de subir do que, propriamente,
a esquiar.
NC - A requalificação
urbana prevista para as Penhas da Saúde vai dar o impulso
necessário ao turismo de Inverno?
J.A.P.- Vai ser um
marco importante na evolução do turismo na região.
Aliás, defendemos que é a partir das Penhas e da
zona do Sabugueiro, que são centros com algumas infra-estruturas,
que se deve investir no turismo de Inverno.
De acordo com estudos já feitos, uma das indústrias
mais produtivas do País é o turismo. Assim sendo,
a região só tem a ganhar com o investimento nesta
área. Deste modo, a efectivação dos planos
para as Penhas da Saúde vai ser uma grande achega para
que o turismo, não só de Inverno, se possa desenvolver
ainda mais.
NC - Está, então,
optimista quanto ao futuro da zona turística da Serra?
J.A.P. - Temos que
acreditar mais em nós próprios. Temos que dar as
mãos e trabalhar mais em prol de um objectivo comum: tornar
esta zona mais rica e mais próspera.
É preciso acabar com as quesílias e com a filosofia
de que cada um é que sabe e só aquilo que ele pensa
é que pode ser feito. Por isso é que nós
acreditamos que seria melhor haver um sítio onde todas
estas pessoas se reunissem para encontrar melhores soluções
para a região e oferecer qualidade a quem nos visita. |