Teatro das Beiras apresenta programa 2001
Companhia descontente com Governo e autarquia

No início de mais um ano de actividades, o Teatro das Beiras reclama mais apoio da Câmara Municipal e mostra-se descontente com o espaço pouco condigno na Travessa da Trapa.

 Por Rita Lopes
NC/Urbi et Orbi

Os menbros da Companhia de Teatro reclamam uma visita da vereadora da cultura ao espaço na Travessa da Trapa.

"Não há salas de teatro para o que se produz na Covilhã". Quem o defende é Fernando Sena, director do Teatro das Beiras, que, numa conferência de imprensa realizada no dia 15, segunda-feira, para a apresentação do programa para 2001, se mostrou descontente com a autarquia. Segundo o director, há uma preocupação da companhia em ter um espaço condigno, mas "esse desejo também devia partir da cidade e sobretudo da Câmara. Coisa que não acontece. Infelizmente esta autarquia não tem a cultura como prioridade e isso nota-se no apoio que nos dão". O responsável da companhia covilhanense revela que nem sequer conseguiram "ser recebidos para saber como era o transporte para Roubaix e o espectáculo já se realizou em Novembro". Embora "ainda à espera que a vereadora da cultura tenha tempo para nos visitar", Fernando Sena afirma que o Teatro das Beiras não vai parar.

Teatro de Fevereiro a Novembro

"A Escola dos Maridos", de Moliére, é a peça que vai abrir o programa dos espectáculos, nos finais de Fevereiro. Uma peça inédita em Portugal, dado que, segundo Mário Barradas, encenador, "nunca foi traduzida para a língua de Camões". A dinamização da escrita e dos clássicos continua a ser a grande aposta do grupo teatral serrano. Uma das companhias sobreviventes à descentralização do teatro "feita a conta gotas e à custa de esforços individuais de gente apaixonada", sublinha.
Os públicos mais jovens, nomeadamente as escolas primárias e do 1º ciclo, vão poder ver uma peça à sua altura. "Uma lua entre duas casas" é um texto épico que mostra que a desigualdade e a diferença não significa separação, mas união. Um espectáculo encenado por Rogério Bruno e que estreia a 27 de Março.
Numa lógica de solidariedade, o antigo GICC vai entrar numa co-produção com o CINDREVE - Centro Dramático de Évora, coordenado por Mário Barradas, na peça "Chicken", de Gregory Motton. Uma mostra que segundo Gil Nave, encenador, "mostra que as pessoas não devem desistir de combater, nem abster-se perante algumas situações, como fizeram nas eleições". A estreia decorre primeiro em Évora, no dia 25 de Outubro, e no dia 22 de Novembro, na Covilhã.
Gil Vicente continua a fazer parte das programações da companhia. O "Auto da Índia" vai percorrer ruas, praças e casas do povo em todo o concelho. "Um espectáculo móvel que se faz em condições quase sem condições", diz Nave que defende que "com este tipo de estética e de texto chegamos a públicos mais alargados e que não têm a prática de espectadores de teatro". A difusão da obra vai iniciar-se em Março e vai continuar, uma vez que "é um espectáculo muito solicitado", acrescenta.
"Cinco dedos de poesia" é a aposta de Abril. Um projecto de divulgação de textos poéticos do conterrâneo Manuel da Silva, poeta e editor albicastrense, que tem início no dia 10. Os habituais Encontros de Dança e o Festival de Teatro da Covilhã vão preencher os dias 14, 15 e 16 de Setembro e de 2 a 10 de Novembro, respectivamente.

Falta de espaço e de cultura

Depois de 16 anos no Teatro-Cine, o Teatro das Beiras vê-se, agora, condicionado à única sala do novo edifício, a Sala-Estúdio. Um espaço que ainda não satisfaz as necessidades da companhia que se sente desprotegida quer pela Câmara local, quer pelo Governo. Depois da decisão do Instituto Português das Artes e do Espectáculo (IPAE) em retirar grande parte das verbas atribuídas aos teatros regionais, o Teatro das Beiras está a "dar um tiro no escuro. Estamos a programar sem saber o que vamos receber e se vamos. Mas estamos habituados e vamos apresentar espectáculos um pouco mais adaptados aos espaços que temos", sublinha Gil Nave. Contudo, as aspirações dos dirigentes vão mais longe. A construção de uma sala polivalente, com um palco funcional para as mais variadas artes está na lista das prioridades. "Depois de termos a sala do Teatro-Cine, mesmo com muitas condicionantes, não nos podemos limitar a uma pequena sala estúdio", acrescenta Fernando Sena.
Assim, mesmo sem o devido apoio da autarquia, as obras vão continuar, todas suportadas pela companhia, porque, afirma Mário Barradas, "o público do Interior merece. Pois, apesar de não terem grandes referências culturais, são públicos muito receptivos e disponíveis, emocional e racionalmente".

  

Maria do Rosário afirma estar atenta às necessidades

A vereadora da Cultura da Câmara Municipal da Covilhã, Maria do Rosário Rocha, diz não ter tido ainda conhecimento do plano de actividades para 2001 do Teatro das Beiras, apresentado na segunda feira, 15, mas garante que irá apoiar a companhia de teatro profissional, "dentro dos constrangimentos financeiros da própria autarquia". "É claro que gostaríamos de apoiar todas as actividades a 100 por cento de todos os agentes culturais", afirma. E quanto às acusações da direcção do TB à falta de apoio, Maria do Rosário lembra que a edilidade já deliberou a aquisição de um edifício no valor de 25 mil contos para a instalação do TB. "Há realmente uma compra de um edifício que a Câmara já se dispôs a aceitar, no montante de 25 mil contos, que ainda não foi feita porque legalmente a negociação tem que ser feita entre a companhia de teatro e o proprietário. Nós vamos apenas garantir o pagamento da mensalidade pela aquisição desse edifício", garante.
As novas instalações serão pagas pela autarquia na totalidade, à excepção do valor de juros do empréstimo.
Maria do Rosário não aceita as críticas quanto à falta de diálogo com o TB. E afirma que já visitou a Sala-Estúdio, localizada na Travessa da Trapa e inaugurada em Outubro último aquando da realização naquele espaço do IMAGO - Encontros de Cinema e Vídeo Jovem da Beira Interior pelo Cineclube da Beira Interior, todo o apoio técnico foi disponibilizado sempre que solicitado. "Não posso com certeza estar constantemente a lá ir e não me parece que a minha não ida lá inviabilize qualquer actividade. Eu estou perfeitamente a par do que se passa no Teatro das Beiras", conclui.

 

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