"Camarate" reconstitui
a noite de 4 de Dezembro de 1980 em que o avião Cessna
que transportava Francisco Sá Carneiro, primeiro ministro
de Portugal, o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, Snu
Abecassis, Maria Manuel Amaro da Costa, António Patrício
Gouveia e os dois pilotos Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa.
E segue daí para o processo judicial que se desenrola
até ao seu arquivamento definitivo. Espelha a forma como
se dividem as opiniões entre um possível acidente
ou um atentado, como se dividem as opiniões da Justiça
e das comissões de inquérito Parlamentares.
O percurso que levou Luís Filipe Rocha, licenciado em
Direito, até ao processo de "Camarate" é
curioso. Encontrava-se, em 1995, a fazer investigação
para um outro filme, uma espécie de retrospectiva da situação
da Justiça portuguesa no final do século XX, quando
no meio dos processos judiciais "mais emblemáticos
do funcionamento da Justiça" se deparou com "Camarate".
"Fiquei de tal maneira estarrecido e surpreendido com o
que encontrei que decidi investigar e tentar fazer um filme sobre
o caso Camarate". Um tema que exigiu por parte do realizador
uma investigação "morosa e minunciosa",
pois era sua preocupação conseguir "o máximo
de rigor e de escrúpulo no que dizia respeito ao processo".
Durante três anos Luís Filipe Rocha empenhou-se
no estudo do caso para poder escrever e filmar "Camarate,
acidente ou atentado".
Acidente ou atentado?
Esta é a questão
que nos colocamos e que durante vinte anos vagueou pelos corredores
dos tribunais portugueses sem obter resposta. Luís Filipe
Rocha também não sabe responder a esta questão
e assume um certo descrédito na Justiça portuguesa,
aquele que considera "um dos mais importantes pilares de
um Estado de Direito Democrático". Confessa também
que, à imagem da personagem protagonista do filme, vê-se
forçado a "crer nos magistrados enquanto pessoas
humanas e individuais capazes de agir em consciência".
No final da exibição do filme, seguiu-se um debate
onde estiveram representados o Partido Socialista, Partido Social
Democrata, Partido Comunista Português e Partido Popular.
Perante uma assistência atenta, Luís Filipe Rocha
sublinhou a satisfação por ter conseguido realizar
este filme. "Estou integralmente satisfeito com este filme,
assumindo integralmente tudo o que é dito, todas as suspeitas
levantadas". Para o realizador de "Camarate" a
visão corporativa que algumas instituições
democráticas têm de si levou a que este caso não
tivesse outro desfecho que não o do arquivamento definitivo
por falta provas.
"O filme tem um aspecto de seriedade enorme em que as conclusões
são conduzidas como em qualquer comunicação",
referiu no final Alçada Rosa, vereador do PSD da Câmara
Municipal da Covilhã. Para João Correia, do Partido
Socialista, "Camarate" representa uma atitude fundamental:
questionar a história recente de Portugal. Isilda Barata,
do PP, reforçou a "necessidade de se tentar sempre
a verdade". Armando Morais lamentou perante os presentes
o facto de "a Justiça não estar a responder
a estes casos".
"Camarate" vai continuar a ser, e cada vez mais consensualmente,
um dos momentos mais negros da história de Portugal e
da Justiça. |