OLHAR
Edmundo Cordeiro
José Gil, em "A
visão do invisível", capítulo de A
IMAGEM-NUA E AS PEQUENAS PERCEPÇÕES, começa
por dizer que "a experiência primeira é a da
imagem intensiva". Essa imagem intensiva não é
bem uma imagem, mas variações de imagem, variações
que são prévias à constância perceptiva.
Não "vemos" a imagem intensiva.
E é aí que o
artista regressa constantemente, a essa "massa primitiva".
Essas variações são um caos original: "é
aí que começa a experiência estética".
É um invisível, "um invisível que não
está dependente das determinações do visível",
um invisível que, sendo primeiro na experiência
estética, não pode ser considerado como o reverso
do visível: antes da experiência do visível
há a experiência do invisível, experiência
que é irrepresentável, uma experiência de
forças e intensidades, de pequenas percepções.
Como é que se pode demonstrar
que a experiência primeira é a do "caos original"?
Como é que se pode, em suma, escapar ao primado da visão?
Isso passa em Gil pela distinção entre visão
e olhar. O olhar chega às "pequenas percepções"
não-visíveis, elas são apreensíveis
por uma "sensibilidade intensiva do olhar" - "O
OLHAR ESCAVA A VISÃO".
Deixar pois de ver, para ver
o que há para ver no meio do que se vê sempre, no
meio do que se vê mais.
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