|
|
Protecção
Civil
De todos para todos
A prova, que contou para
o Campeonato Nacional de Montanha, consagrou Ferreira da Silva
como campeão da especilidade
Por
Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi
|
|
|
Rui Esteves, delegado
da Protecção Civil de Castelo Branco, em entrevista
ao Notícias da Covilhã
|
Notícias da Covilhã
- Como define o Serviço de Protecção Civil
(SPC) de que é delegado distrital?
Rui Esteves - A Protecção
Civil (PC) é uma tarefa de todos para todos, que procura
prevenir riscos colectivos resultantes de situações
de acidentes graves, catástrofes ou calamidades. Sejam
estas de origem natural ou tecnológica.
Por outro lado, procura, também, atenuar os efeitos desses
desastres e socorrer as pessoas em perigo.
NC - Como é que o Serviço está distribuído
ao nível do distrito?
R. E. - Em cada município do distrito o responsável
máximo pela PC é o presidente da câmara.
É a ele que compete dirigir o Serviço Municipal,
embora possa delegar essa competência a algum vereador.
A nível distrital, cuja delegação é
tecnicamente da minha responsabilidade, é ao governador
civil que cabe a tutela.
NC - Mas a quem cabe, então, a primeira palavra em
termos de acção?
R. E. - A pirâmide está dividida em três
grandes vectores: primeiro, na base, o presidente da autarquia,
depois o governador civil e, no topo, o primeiro-ministro.
Agentes locais auto-suficientes
NC - O SPC distrital está a ter capacidade de resposta
face à vaga de mau tempo que há algumas semanas
assola o País e tem deixado um rasto de destruição
pela região?
R. E. - Penso que sim, quer nas acções das
câmaras municipais, quer na actuação dos
próprios agentes de Protecção Civil.
NC - No caso concreto da Covilhã, correu tudo dentro
da normalidade?
R. E. - Todos os problemas que surgiram no concelho da Covilhã
foram resolvidos ao nível do presidente da autarquia e
dos comandantes dos Bombeiros, GNR e PSP.
Estes, que são os agentes locais, estão a ser auto-suficientes.
Não foi necessário, ainda, mobilizar meios provenientes
de outros concelhos.
NC - Mas se houvesse necessidade essa mobilização
poderia ser feita?
R. E. - Poderia. No entanto é preciso salientar que
todos os concelhos do distrito tiveram até agora situações
em que foi preciso intervir, o que dificulta a deslocação
de meios para outros locais.
NC - Que tipo de situações?
R. E. - Desde deslizamentos de terras, a queda de árvores,
pequenas inundações. Problemas distribuídos
de uma forma homogénea por todo o distrito.
Delegação distrital: "coordenar os meios é
a nossa função"
NC - Num cenário de intervenção a nível
municipal qual é o papel activo da delegação
distrital?
R. E. - Primeiro actuamos no sentido da prevenção.
Neste caso especifico, assim que recebemos o comunicado do Instituto
de Meteorologia, no dia 6 de Dezembro, a avisar que se aproximavam
condições adversas entrámos em alerta e
procedemos ao envio de uma cópia do documento para todos
os municípios, respectivos agentes e órgãos
de comunicação social.
Nesse documento inserimos, também, algumas medidas de
auto-protecção para os cidadãos de acordo
com as previsões que tínhamos. Depois, de hora
a hora, recolhemos os dados referentes a cada concelho, no que
diz respeito, por exemplo, a níveis de precipitação
e ocorrências.
NC - Pode dizer-se que a delegação distrital
assume, assim, uma função de coordenação
de meios?
R. E. - Sim. Quem passa ao terreno são sempre os agentes
locais. A delegação só é chamada
às ocorrências quando há alguma dificuldade
de coordenação, ou quando são necessários
mais meios.
Até ao momento, com esta intempérie, foram suficientes
e nunca se passou do nível municipal.
NC - Se for preciso passar do nível municipal para
a actuação a nível distrital que meios tem
a delegação ao dispor?
R. E. - Nós não temos meios próprios.
Limitamo-nos a coordenar os que existem na região.
Se, por exemplo, os bombeiros de determinado concelho não
têm maneira de fazer face a um qualquer incidente, cabe-nos
accionar meios de outro corpo de bombeiros do distrito, ou, até,
eventualmente, pedir ajuda de âmbito nacional.
NC - Não seria mais vantajoso que a própria
delegação tivesse alguns meios de reserva?
R. E. - Não necessariamente. Julgo que quem coordena
não tem de ter efectivamente meios no terreno. Temos é
de ter contactos e fazer bom uso deles para melhor servir o cidadão.
NC - Estão definidos quais são os maiores riscos
do distrito?
R. E. - Estão definidos os possíveis riscos
e delineados os respectivos planos de intervenção.
Em termos de terramotos, por exemplo, não há qualquer
perigo, mas no que respeita a fogos florestais temos, como é
óbvio, grandes possibilidades de enfrentarmos problemas.
Daí existir um plano de emergência para incêndios,
bem como outros. Por exemplo para a Serra da Estrela. A neve
e o nevoeiro podem atraiçoar os menos conhecedores e,
por isso, a nossa tarefa é fazer com que quem vai para
a Serra se prepare convenientemente.
NC - Como é que os planos são accionados?
R. E. - Os planos definem claramente quem é quem perante
determinada emergência.
Cada agente de Protecção Civil, perante o risco
de um acidente sabe, à partida, o que tem de fazer e não
fazer. Na emergência o melhor trabalho que se pode fazer
é o planeamento. Mais vale prevenir que remediar.
|
"Sensibilidade dos autarcas resolve
problemas"
NC - Considera
os autarcas bem preparados para assumirem o comando das operações,
como primeiros responsáveis pela Protecção
Civil Municipal?
R. E. -
O que resolve os problemas é a sensibilidade das pessoas
e os presidentes de câmara do distrito têm-na.
Sempre que se prevê uma situação adversa
como esta que vivemos nas últimas semanas, há uma
preocupação por parte de todos em acompanharem
os casos de perto e disponibilizarem todos os meios para os minimizar.
É um papel que tem de ser enaltecido pela sua acutilância.
NC - Depois desta vaga de mau tempo, acredita que os municípios
afectados, por exemplo, com estradas danificadas ou queda de
muros, vão conseguir fazer face aos prejuízos?
R. E. - No caso concreto das vias, é claro que não.
Muitos municípios tiveram graves problemas nessa área
e vão necessitar de apoio e ajuda do Governo, nomeadamente
do Ministério das Obras Públicas.
NC - Como define a relação do SPC com os parceiros
estratégicos mais próximos (autarquias, policias,
bombeiros)?
R. E. - Eu exerço a função de delegado
distrital da Protecção Civil há quase três
anos e devo dizer que essa relação é excelente.
Não só a nível do comando distrital de cada
uma das entidades, como também do comando das várias
secções e destacamentos, Instituto de Estradas,
Cruz Vermelha, hospitais, centros de saúde e outras.
No que diz respeito aos bombeiros é preciso acrescentar
que neste tempo passámos do zero para os quase 100 por
cento, em termos de relação pessoal e institucional
e de resolução de problemas. Penso que se quebrou
definitivamente o gelo.
NC - Esse relacionamento também é excelente
antes da emergência, no período de prevenção?
R. E. - Sim. Sempre que fazemos planos, porque é no
planeamento que estas batalhas se ganham, contamos sempre com
a disponibilidade e colaboração total de todos
os agentes.
Serviço 24 horas por dia
NC - E com as populações o relacionamento é
igualmente bom?
R. E. - Quando cheguei a este Serviço não havia
um único plano de emergência e a divulgação
do nosso trabalho era nula. Por isso houve uma preocupação
de, primeiro, disponibilizar aos órgãos de comunicação
social todos os nossos contactos para qualquer esclarecimento,
24 horas por dia. Fizemos o mesmo nas juntas de freguesia e câmaras
municipais.
Tudo no sentido de nos aproximarmos das populações.
É um esforço que fazemos, dia e noite.
NC - Está a resultar?
R. E. - Penso que sim. A prova evidente é que há
muitas pessoas, hoje, que nos dizem que ouviram os nossos conselhos
na rádio e que lhes foram bastante úteis. Que se
sentiram mais seguras.
NC - É importante essa ajuda da comunicação
social?
R. E. - É imprescindível, desde que não
vá no sentido de colocar as pessoas em pânico. Ou
seja, desde que informe sem esconder nada e que dê conselhos.
NC - No entanto, julga que a opção de telefonar
à Protecção Civil já está
enraizada na mentalidade das povoações?
R. E. - Não está muito. Mas começa a
melhorar. Hoje em dia, para além de recebermos chamadas
com pedidos de ajuda, chegamos a ter telefonemas de pessoas que
estão em Lisboa, querem ir para a Serra da Estrela e nos
perguntam qual o melhor percurso e quais as condições
de segurança.
O nosso problema é que ainda não temos uma pessoa
durante 24 horas por dia de prevenção na nossa
sede física, mas, de qualquer forma, o telefone é
desviado a qualquer hora para o meu número pessoal, por
isso os cidadãos podem contactar-nos a todo o momento.
NC - É vosso objectivo que cada vez mais pessoas vos
contactem?
R . E. - O nosso objectivo é que as pessoas estejam
informadas do que se passa à sua volta.
Esse trabalho tem tido particular ênfase junto da população
escolar, onde desenvolvemos múltiplas acções
de aconselhamento sobre os mais diversos riscos.
NC - Há frutos desse trabalho?
R. E. - Há resultados muito positivos. Conseguimos,
por exemplo, que as escolas secundárias fizessem os seus
próprios planos de emergência e evacuação.
Das 32 escolas existentes, 28 têm esse plano.
|
|
Distrito
espera Centro de Coordenação de Socorros
NC - Qual
é o seu maior desejo para a Protecção Civil
em 2001?
R. E. -
O meu maior desejo é que não houvesse razão
para a PC distrital intervir.
Outra vontade era que, de uma vez por todas, acabasse em Portugal
o chamado "nacional-porreirismo". Ou seja que o cidadão
comum deixasse de estar convencido de que tudo acontece lá
fora e não a nós que somos um povo pacato. Devia
haver mais preocupação para que, efectivamente,
se acabasse com o "deixa andar".
NC - O que é que falta para que a prevenção
e todas as outras funções que a PC tem possam melhorar
no novo ano?
R. E. - Falta o Centro de Coordenação de Socorros
(CCS) distrital a funcionar. É uma medida do pacote legislativo
que define a aplicação destas estruturas em todos
os distritos.
Segundo informação do secretário de Estado
da Administração Interna, 2001 é o ano de
arranque e Castelo Branco terá um dos primeiros, por isso
aguardamos com ansiedade.
NC - Quais são as vantagens?
R. E. - Com o CCS haverá uma concentração
de meios, que agora estão dispersos. Como é o caso
lamentável, em termos de facilidade de trabalho, de o
Centro de Coordenação Operacional (CCO) dos bombeiros
estar na sertã, enquanto todos os outros órgãos
decisores estão na capital de distrito. É uma questão
de eficácia que passa, ainda, por outras coisas.
NC - Que outras coisas?
R. E.- Uma muito importante é a dotação
do distrito com uma viatura de emergência médica
a funcionar sempre que um cidadão necessite de apoio de
um técnico de saúde em situação de
acidente. O País está em parte coberto por este
tipo de viaturas, mas Castelo Branco ainda não tem.
NC - A PC tem 11 planos de emergência delineados. Há
mais algum ainda por concretizar?
R. E. - Este ano esperamos poder concretizar um de emergência
para acidentes ferroviários.
Apesar da remodelação da Linha da Beira Baixa há
uma situação bastante preocupante, que é
o trajecto entre Fratel e Vila Velha de Ródão,
desenvolvido junto ao Tejo e com uma inclinação
monstruosa. Temos já um levantamento do terreno, inclusive
com geo-referências dos pontos de risco, agora precisamos
de o concluir. Mas apenas com três pessoas a tempo inteiro,
não é uma tarefa fácil.
|
|
|
|