O fim do diálogo entre
Ministério da Educação (ME) e associações
académicas foi deliberado no Encontro Nacional de Dirigentes
Associativos (ENDA), que decorreu no fim de semana de 5, 6 e
7 de Janeiro, em Oeiras. Os estudantes não querem continuar
com o diálogo do "empata".
As relações azedaram depois de a resposta do secretário
de Estado do Ensino Superior, José Reis, às questões
colocadas na reunião que tutela e tutelados mantiveram
em Novembro último ter chegado às mãos das
Associações de Estudantes na véspera do
ENDA. "Evasivo" e "malabarista" é
a forma como a Associação Académica da Universidade
da Beira Interior (AAUBI) interpreta o documento da tutela sobre
a avaliação das universidades, o sub-finaciamento,
os onze meses de bolsas, insucesso escolar e o estatuto de estudante
elegível.
Em relação à questão do estudante
elegível, a AAUBI confrontou o secretário de Estado
sobre a sua implementação. José Reis não
foi claro na resposta dizendo apenas que a matéria não
está na agenda política. Para Jorge Jacinto, presidente
da Associação Académica ubiana, esta afirmação
não é apaziguadora e receia que, uma vez regulamentada,
pode a tutela decidir sobre a sua entrada em vigor. As associações
académicas de todo o País decidiram, por isso,
"cortar relações com o Ministério.
A partir deste momento só estamos abertos a negociações".
O presidente da AAUBI acusa o ME de "desresponsabilização
enorme naquelas que são as políticas do Ensino
Superior".
Agitação interna
Relativamente ao Orçamento
de Estado, Jorge Jacinto refere que, apesar de ter havido uma
aumento na fatia para as universidades, esse valor não
é real pois "não chega para cobrir os indíces
de inflacção". "O que é facto
é que o Ensino Superior tem cada vez menos dinheiro",
afirma.
A AAUBI apresentou uma proposta de aumento do valor das bolsas.
O objectivo é que, em vez do valor-padrão máximo
equivalente ao ordenado mínimo nacional, seja calculado
um valor de custos por curso que, somado e dividido, dá
uma média de 74 mil e 400 escudos por aluno/mês.
"O que pedimos é que haja um apoio real aos estudantes",
defende. E faz um apelo ao Governo: "Aqui intensifica-se
a necessidade urgente de uma reforma fiscal".
Quanto à avaliação das universidades, quem
a faz, de que modo é feita e que repercussões tem,
são algumas das questões colocadas pelo presidente
da AAUBI. E contesta: "Nós nunca temos esses dados".
Concluído o "diagnóstico sério"
feito pelas associações académicas segue-se
agora, na Universidade da Beira Interior (UBI), a segunda fase.
A mobilização interna é o próximo
passo a dar. A primeira acção é já
amanhã, quarta feira, 17, em Concelho de Núcleos
na sede da Associação. A 22 de Fevereiro realiza-se
a primeira Assembleia Geral de Alunos (AGA) do ano para debater
os resultados deste ENDA. "Vamos tentar contestar e criar
alguma mobilização aqui na nossa universidade",
afirma Jorge Jacinto.
As greves e manifestações não estão
postas de lado, embora sejam vistas pelas AE's como "último
recurso". Tudo depende da próxima reunião
do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).
Docentes "rastreados"
O Ministério da Educação
revelou na semana passada dados preocupantes em relação
ao insucesso escolar nas universidades portuguesas. Segundo este
estudo, em média são necessários nove anos
para concluir uma licenciatura e apenas 11 por cento dos alunos
inscritos no Ensino Superior a terminam no prazo previsto. A
tutela interpreta estes dados como desperdício de recursos
públicos. Jorge Jacinto responde que esse facto pode dever-se,
entre outras causas, a uma falha na capacidade pedagógica
dos professores. E propõe que sejam feitos "rastreios"
à competência dos docentes. "O que há
de facto é uma grande desorganização no
Ensino Superior", conclui.
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