Covilhã na rota do
urânio
Beira respira
radioactividade
NC/Urbi
et Orbi
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O síndroma dos balcãs
está a preocupar a população do Interior.
Estudos efectuados na região apontam a cidade da Covilhã
como o local do País com os mais elevados níveis
de radão.
"Há
mais radioactividade na região das Beiras do que no Kosovo".
Matos Silva, geólogo do Departamento de Ciências
da Terra da Universidade de Coimbra (UC) sustenta a afirmação.
Por isso, "está mais exposta a população
que vive em localidades onde há concentração
de urânio do que os nossos soldados", acrescenta.
Vários estudos têm sido realizados sobre a concentração
de radão, um gaz que surge de decaimento do urânio
e que escapa da rocha, nos concelhos beirões. A cidade
da Covilhã, num estudo feito em 1939, pelo Laboratório
Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, aponta na média
geométrica os maiores níveis de radioactividade.
Ao seu lado está a localidade de Canas de Senhorim, ambas
consideradas locais onde o radão se sentia com mais intensidade,
em todo o País. As grandes concentrações
do gaz estão intimamente ligadas à natureza dos
solos e é nos terrenos graníticos que elas são
mais elevadas.
Também o Laboratório de Radioactividade (LR) da
UC elaborou um estudo para verificar os níveis do gaz
nas habitações da região centro. O estudo
rastreou cerca de mil casas dos concelhos de Castelo Branco,
Seia, Tondela, Coimbra e Oliveira do Hospital. Um importante
instrumento de trabalho para o plano de ordenamento de território
que, no entanto, não é utilizado pelas autoridades.
De acordo com o LR, dirigido por Manuel Maria Godinho, se os
dados resultantes do levantamento fossem atendidos pelas autarquias,
era possível evitar construir nos locais onde a radioactividade
é mais elevada. Mas, em Portugal "um dos países
do mundo em que o problema se coloca com mais acuidade",
não há qualquer tipo de legislação
que sirva de referência.
Das mil habitações rastreadas pela equipa do LR
foram encontrados alguns valores superiores à recomendação
da União Europeia, único documento existente há
mais de 10 anos. Os proprietários das casas foram avisados
e aconselhados para a necessidade de ventilar os edifícios.
Responsáveis do LR admitem que "a inalação
durante tempo prolongado pode causar fundamentalmente problemas
de cancro do pulmão".
Região
centro afectada
Nas Beiras, num eixo entre os distritos da Guarda e Viseu, foram
produzidos, desde 1951, mais de quatro mil toneladas de urânio
pela exploração de 50 jazigos. "Encontramos
na região um grande passivo ambiental. A exploração
decorreu com legislação ambiental pouco restritiva",
afirma Matos Dias.
Hoje, apenas existe uma mina a funcionar, concessionada à
Empresa Nacional de Urânio que tem o exclusivo da exploração
daquele minério, utilizado sobretudo nas centrais nucleares.
Como é uma empresa de capitais públicos, o Estado
tem responsabilidades acrescidas. Segundo Matos Dias, "é
imperativo nacional encontrar uma solução no ordenamento
do território que assegure a possibilidade de explorações
a longo prazo e salvaguarde as populações de efeitos
de radiações. É preciso evitar construções,
disseminação de materiais com teores elevados e
proibir cultivo nesses locais de produtos destinados à
alimentação".
Num levantamento efectuado pelo Instituto Geológico e
Mineiro, uma mina de urânio inactiva no concelho de Mangualde
foram identificados "vários pontos negros" e
uma dispersão geoquímica persistente de urânio
nas linhas de água influenciadas pelas minas numa distância
de, pelo menos, 10 quilometros, a partir dos focos de contaminação".
Uma situação que preocupa os habitantes do concelho
e de toda a região dados os inúmeros riscos que
a mineração do urânio pode causar. |