António Fidalgo
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2001 - Ano de Odisseia
Começa o ano de 2001
que, graças ao filme de Stanley Kubrik, se associa à
ideia de odisseia. Nos tempos comezinhos que correm é
difícil visionar o ano que ora começa como uma
viagem de aventuras, à semelhança da de Ulisses,
cantada por Homero. E, no entanto, as aventuras e as desventuras
espreitam sempre em qualquer curva da viagem do tempo.
Seja na metáfora homérica de mar, seja na do espaço
de Kubrik, o novo ano abre-se à nossa frente desconhecido
e imprevisível. Todos os planos que possamos fazer para
o que possa acontecer ficarão sempre aquém do que
realmente será. Sem poder antever o futuro, é bom
tomar consciência de que o novo ano é um caminho
a fazer, como diz António Machado "caminante, no
hay camino / se hace camino al andar".
O que podemos aprender de Ulisses na sua viagem é a sagacidade,
o modo como enfrenta as diversidades, a fúria do ciclope
e o canto das sereias. A astúcia de Ulisses é o
paradigma de como, face à vida, ao tempo que nos é
dado, de que ignoramos contornos e termo, a única solução
é preparar o viajante. Por melhores que sejam, os planos
podem sair sempre furados, ao passo que o certo reside na preparação
de quem enfrenta a viagem.
As odisseias são viagens de aventuras e desventuras. Mas
o que caracteriza mais a odisseia é a capacidade assombrosa
de o homem enfrentar o destino. Pois como também já
diziam os gregos:
Muitas são as coisas
extraodinárias
Porém, nada mais extraordinário que o homem.
Ultrapassou o mar cinzento,
Rasgando-o entre os abismos das ondas furiosas
Quando sopra o tempestuoso vento do sul.
(Sófocles, Antígona)
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