ARTEFACTUALIDADE
Edmundo Cordeiro
Jacques Derrida em "The
Deconstruction of Actuality. An Interview with Jacques Derrida",
in RADICAL PHILOSOPHY, nº68, autumn 1994, pp.28-41:
"Muito esquematicamente,
deixe-me mencionar-lhe rapidamente dois dos aspectos mais actuais
do momento. Eles são muito abstractos para capturar os
aspectos mais característicos da minha própria
experiência da 'actualidade' (
) mas indicam qualquer
coisa daquilo que constitui a actualidade em geral. Vou tentar
designá-los (
) [por]: artefactualidade e actuvirtualidade.
O primeiro significa que a actualidade é de facto fabricada:
é importante saber o que é que é feito com
ela, mas é ainda mais necessário saber reconhecer
que é feita. Não é dada, mas activamente
produzida; é dividida, investida e interpretada performativamente
por uma gama de procedimentos hierárquicos e selectivos
- procedimentos factícios ou artificiais, que são
sempre subservientes a [dependentes de] vários poderes
e interesses, dos quais os 'sujeitos' e agentes (
) nunca
estão suficientemente conscientes. A 'realidade' da 'actualidade'
- por individual, irredutível, estática, dolorosa
ou trágica que possa ser - conduz-nos somente a esquemas
ficcionais. A única maneira de a analisar é através
de um trabalho de resistência, de contra-interpretação
vigilante, etc. Hegel tinha razão em dizer aos filósofos
do seu tempo para ler os jornais. Hoje, o mesmo dever instiga-nos
a descobrir como é que as notícias são feitas
e por quem: os diários, os semanários, e os noticiários
televisivos. Precisamos de insistir em olhar para eles do outro
extremo: o das agências noticiosas e o do tele-ponto. E
não devemos nunca esquecer o que é que isto envolve:
todas as vezes que um jornalista ou um político aparece
para falar connosco directamente, nas nossas casas, e olhar-nos
directamente nos olhos, ele ou ela estão na verdade a
ler, por uma transparência, o ditado do 'cursor', estão
a ler um texto que foi produzido noutro lugar, numa ocasião
diferente, possivelmente por outra pessoa ou por todo um conjunto
de escritores e editores que não são nomeados."
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