Carlos Pinto acusa o Instituto
Português de Arqueologia (IPA) de estar a atrasar deliberadamente
as obras de construção do Silo-Auto, no subsolo
da Praça do Município. Numa conferência de
imprensa realizada na terça-feira, 12, o autarca classificou
de "incompreensível o boicote dos trabalhos, quando
os estudos realizados até agora demonstram que não
há material de interesse histórico no local".
Por seu lado, os arqueólogos afirmam que estão
a fazer o que é exigido em obras desta natureza e que
o evoluir dos trabalhos depende, também, das condições
climatéricas. Pinto não admite que a conclusão
da obra se prolongue para além do prazo e ameaça:
"Se não formos ouvidos, retomamos as escavações
por nossa conta e corremos com esses arqueólogos daqui
para fora".
Em causa está o evoluir dos trabalhos da equipa do IPA
que, nas palavras do edil, "são de uma lentidão
atroz". "Não permitem que as máquinas
entrem num raio de dez metros, o que obriga a um ritmo de trabalho
menor em função dos meios que temos". A gota
de água que fez perder a paciência da Câmara,
terá sido a descoberta, na passada semana, de uma estrutura
que se supõe ter pertencido ao sistema de saneamento da
cidade no século XIX. A forma como os arqueólogos
estão a proceder à identificação
da descoberta não agrada a Carlos Pinto, uma vez que "desde
quarta-feira estão a limpar as pedras com um pincel. A
autarquia está a pagar e eles com ordens de Lisboa para
não deixarem avançar a construção".
É na capital, nomeadamente na burocracia da administração
pública, que Pinto parece encontrar a origem de todo este
impasse. O autarca assegura que a Covilhã está
a ser vítima de "um qualquer militante do aparelho
socialista, que julga poder apresentar trabalho ao impedir o
desenvolvimento de uma cidade social-democrata". "Há
excesso de zelo por parte do IPA. Estamos a cumprir o caderno
de encargos e os relatórios que levaram a desembargar
a obra provaram que não há interesse histórico".
A leitura que o executivo camarário faz da situação
é só uma: "Estão a bloquear, deliberadamente,
uma obra fundamental para nós".
"Não podemos
fazer milagres"
A situação é incomportável e Pinto
já fez seguir para o ministro da Cultura uma carta a manifestar
o protesto pela situação e a exigir medidas concretas,
contra "os boys que só pretendem defender o Largo
do Rato em ano de eleições".
Por sua vez, Filipe Santos, arqueólogo responsável
pelo acompanhamento das obras no terreno, não tem dúvidas
em acusar a Câmara de incompreensão face ao trabalho
desenvolvido até ao momento. Apesar de compreender a posição
dos responsáveis camarários, é peremptório
em afirmar que, "ainda que as estruturas sejam recentes,
as pessoas têm de perceber que é obrigatório
proceder ao seu registo". Esta exigência deve-se ao
facto do Pelourinho ser uma zona protegida pelo IPA, uma vez
que qualquer intervenção feita nestes locais tem
de ser acompanhada de sondagens arqueológicas. Assim,
"todas as obras têm de ser analisadas e é o
que estamos a fazer", refere.
Em relação ao ritmo de trabalho, Filipe Santos,
relembra as condições dificeis em que está
a decorrer. "Está a chover e, mesmo assim, procuramos
fazer os possíveis para que a obra decorra na maior celeridade.
Não podemos é fazer milagres", conclui. |