José Geraldes
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Beira Interior: a última
oportunidade
A Região Centro e o
distrito de Castelo Branco estiveram em foco na semana passada.
Dois estudos de Augusto Mateus, ex-ministro da Economia, analisam
em pormenor as estratégias do desenvolvimento destas entidades
regionais.
O estudo sobre a Região Centro intitulado Um Modelo de
Desenvolvimento para a Região Centro de Portugal foi apresentado,
em Viseu, no III Congresso dos Empresários do Centro.
O estudo sobre o distrito sob o título Estrutura Empresarial
do Distrito de Castelo Branco, encomendado pelo NERCAB (Núcleo
Empresarial de Castelo Branco) integrou o debate de abertura
da FERCAB (Feira das Actividades Económicas de Castelo
Branco).
Ambos os estudos coincidem no diagnóstico das assimetrias
regionais e nas propostas para um desenvolvimento sustentado
do Interior.
Quanto à Região Centro, Augusto Mateus aponta o
seu futuro na base da "procura de uma nova centralidade".
Ou seja, "um modelo de desenvolvimento do País".
Esta centralidade deve ter como objectivo a aproximação
dos níveis de produtividade do resto de Portugal. E isto
passa, segundo o economista, pela "nossa capacidade de pensar".
A massa crítica impõe-se como condição
para se actuar e ter voz activa perante o Estado.
Outros caminhos são a formação profissional
e a investigação. O conhecimento é pedra
branca na estratégia do desenvolvimento.
O estudo sobre o distrito de Castelo Branco apresenta um futuro
negro: as vias de comunicação. Não só
a nível nacional mas também regional. A não
resolução deste problema "influi negativamente
no posicionamento da Região".
As potencialidades existem: património ambiental, paisagístico
e cultural. Acrescenta-se a fruticultura (cereja, pêssego,
maçã) e enchidos tradicionais (queijos, enchidos,
vinho e azeite). A floresta oferece um espaço para a indústria
transformadora. E, no domínio do turismo, a neve e os
recursos hídricos. E, como coroa, a rede de estabelecimentos
de ensino superior.
O que nos diz Augusto Mateus não é novo para nós.
O mérito do seu estudo está na sistematização
do elenco dos problemas reais do distrito de Castelo Branco que
podem ser extrapolados para toda a Beira Interior. E, igualmente
pela sua autoridade de ex-ministro e académico com um
saber realista e pragmático.
Estudos deste jaez são fundamentais, não só
como documentos de trabalho mas também como plataforma
para apresentação de reivindicações
a quem de direito. Por isso, a sua divulgação impõe-se.
E igualmente a sua discussão.
Sem consciência dos problemas não se podem apresentar
soluções. Os dois estudos de Augusto Mateus ajudam-nos
a tomar consciência do que temos e do que nos falta. Agora
haja a coragem da acção!
Com o III Quadro Comunitário de Apoio, Portugal tem a
última oportunidade de dar o salto para o crescimento
de que precisa. As previsões da Comissão Europeia,
FMI e OCDE não são muito favoráveis. E não
se esqueça que, a partir de 2006, os fundos de Bruxelas,
terminam. E depois? Se a própria Grécia já
nos ultrapassou!
O País precisa de um novo fôlego para aumentar a
sua produtividade. Como a Região Centro. Mas é
preciso dar celeridade ao cumprimento das leis.
Veja-se. A lei nº 171/99 prevê o combate à
desertificação do Interior. Incentivos fiscais
e financeiros estão previstos para fixação
das pessoas. As medidas deviam ter entrado em vigor no início
do ano 2000. Estamos em Dezembro e nada se fez. Eis um comportamento
bem à portuguesa. Assim nem daqui a 70 anos, como dizem
os organismos internacionais e agora a revista The Economist,
estaremos nos padrões da média europeia. |