O conhecido ditado popular
"mais vale prevenir do que remediar" está a
guiar os habituais consumidores de carne de vaca na Covilhã.
Numa altura em que aparecem, um pouco por toda a Europa com Portugal
incluído, novos casos de animais infectados, a BSE volta
a ser uma preocupação pública. Na Covilhã
o decréscimo da procura tem acompanhado o estrangeiro
e, num restaurante contactado pelo NC, o consumo de pratos preparados
à base de carne bovina desceu para metade. Apesar dos
alertas, os produtores pecuários continuam a afirmar que
a carne bovina portuguesa é de qualidade e não
apresenta riscos. O facto é que, só no último
ano, foram identificados 100 casos de animais com BSE, números
que não se confirmam na região. Segundo números
dos produtores, nos últimos quatro anos apareceram, apenas,
três casos confirmados, o último dos quais já
remonta a 1998.
O ano de 1990 marca o início do aparecimento do primeiro
caso em Portugal. Sete anos mais tarde, em 1997, fruto da suspeita
de que uma nova variante da Creutzfeldt-Jacob (DCJ) estaria ligada
à BSE, o nosso país proíbe a venda de miolos,
vísceras e medúla de vaca. No entanto, não
está provada a ligação entre as duas doenças,
uma vez que nenhum dos testes laboratoriais realizados até
hoje mostrou uma relação evidente. A única
certeza é que a DCJ tem características semelhantes
à BSE, tanto ao nível da proteína identificada
com a doença, como nos sintomas: perturbações
sensitivas, descoordenação motora e demência.
A nova variante, ao contrário da forma clássica
que atinge maioritariamente idosos, inicia-se antes dos 40 e
em muitos casos por volta dos 20. Em todo o mundo já foram
diagnosticados 80 casos, mas nenhum em Portugal. Recentemente,
suspeitou-se que uma doente da Sertã tivesse contraído
a doença, mas a hipótese não foi confirmada.
Procura diminuiu 50 por
cento
O facto é que as notícias vindas a público,
nos últimos meses, tem provocado diminuições
significativas na procura, quer nos restaurantes quer nos talhos.
Paulo Tomás, é funcionário do "Só
peixe e carne". Atrás do balcão do talho,
revela ser "notória a preocupação das
pessoas". Um dos reflexos da situação são
as perguntas, agora mais insistentes, acerca da proveniência
dos animais vendidos. Contudo, a diminuição das
vendas não tem reflexos no lucro do estabelecimento: "Baixaram
um pouco mas como aumentou o procura de outros animais, ajuda
a contrabalançar. Julgo que quem mais sofre com a situação
são os produtores".
Na restauração, o número de pessoas que
consome pratos confeccionados com carne de vaca, também,
desceu. Rogério Valério é gerente do restaurante
"Montalto" e estima uma perda de "50 por cento".
"Mas há ainda um número de clientes que se
preocupam menos e continuam a consumir o bife da casa, ou outras
alimentos como o rosbife", acrescenta. Para o gerente do
"Montalto", a carne consumida no restaurante "é
da máxima confiança. Comprámo-la a armazéns
credenciados que a importam do Brasil, onde é submetida
a rigorosos testes de qualidade".
Campanha para destruir produção
nacional
Opinião diferente tem Bruno Ribeiro, presidente da Associação
de Criadores de Gado (SANICOBE). "Todos estão preocupados
com os problemas do gado português, mas há casos
muito mais graves, como aqueles que são importados da
América do Sul, de qualidade muito inferior", acusa.
Com conhecimento de causa, Ribeiro continua a desfiar criticas
à forma como o caso tem sido abordado: "O número
de casos em Portugal é insignificante. Os nossos animais
só comem uma sexta parte de rações, se comparados
com o gado espanhol e que eleva o tempo de engorda em mais um
ano. E temos um sistema de controlo dos mais apertados".
Razões suficientes para o representante dos produtores
de pecuária assegurar que a "carne produzida na Beira
Interior não oferece qualquer risco".
O facto é que as declarações similares produzidas
pelas associações dos criadores de animais, não
têm servido para acalmar os consumidores. Bruno Ribeiro
explica o facto com facilidade: "Há sociedades secretas
interessadas em destruir a agricultura empresarial do País
e os principais responsáveis são as multinacionais
da carne, os EUA, a Espanha e os países do Norte da Europa".
Conspiração ou não, o facto é que
os rendimentos dos produtores caíram 50 por cento e o
presidente da SANICOBE avisa que "casos como este, vão
levar à falência os agricultores no final de 2001".
As escolas da Covilhã não estão tão
seguras de estarem a salvo do risco da BSE e, mesmo sem qualquer
directiva do Ministério da Educação, já
suspenderam, como medida de precaução, os pratos
de carne de vaca ou outros alimentos seus derivados. |