António Fidalgo

 

 

 

 


Consensos e Fracturas

Está a tornar-se consensual que o tempo do diálogo e do consenso está em fim de ciclo. O país dá-se conta agora de que a famosa política do diálogo o conduziu a uma situação mole, de contornos indefinidos. Respira-se em Portugal de Dezembro de 2000 um ar abafado e aspira-se por uma trovoada que limpe a atmosfera. O clima de facilitismo e de perpétua cedência tornou-se enjoativo e reclama-se um espírito de rigor e de exigência.
Passa-se isso ao nível geral da política nacional, mas também nos diferentes sectores da vida social, económica e cultural. A educação é um exemplo. A ideia de que todos podiam facilmente licenciar-se, de chegar a doutores sem pena nem esforço, desfez-se no ar como uma ilusão. As mil e uma licenciaturas que proliferaram pelos mais diversas e inacreditáveis escolas de ensino superior de vão de escada, em pólos e extensões minúsculos espalhados a esmo pelo país fora, foram na verdade uma ilusão enganadora, ainda que cara. A realidade, dura como sempre, voltou, ou melhor, está a voltar. O desemprego entre os licenciados é grande, precisamente num momento em que falta mão de obra em Portugal.
Estamos no início de um ciclo de voltar a separar as águas, de quebrar consensos fáceis, de exigência e de trabalho. Chegou o tempo das vacas magras, o tempo de diferenciar quem trabalha e quem não trabalha, de quem tem e quem não tem qualidade. O igualitarismo de dar a todos o mesmo, para evitar problemas, tem de dar lugar ao diferenciamento pelo mérito. Há que fracturar, partir, separar o trigo do joio. O tempo é de coragem e de decisão.

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