Tarsem
Singh .......................
a cela
|
Entrar no subconsciente humano
é um desafio que se torna simultaneamente mais estimulante
e assustador se esse humano for um serial killer. É este
o fio condutor do argumento de "A Cela" que, sob a capa de um thriller, nos
conduz ao tenebroso reino da mente de Stargher, um dos mais perturbantes
psicopatas que a sétima arte nos ofereceu depois de Hannibal
the Cannibal, de "O Silêncio dos Inocentes".
E "A Cela" poderia ter sido um novo "Silêncio
dos Inocentes" pois, tal como este, veio abrir ao género
uma nova direcção - a descoberta da mente de um
assassino, dos seus móbeis mais íntimos, de uma
justificação para os seus actos, que neste caso
recai sobre os abusos que Stargher sofreu por parte do pai enquanto
criança. Uma ideia grandiosa a que se alia uma fotografia
muito bem trabalhada, balançando os efeitos especiais
com métodos algo ultrapassados de trabalhar a cor, saturada
em alguns pontos, esbatida noutros, criando sensações
propositadamente difusas.
Mas, como tantas outras óptimas ideias, esta perdeu na
concretização. Além da muito discutível
escolha de Jennifer Lopez para o principal papel, o filme perde
pela dispersão e pelas soluções sofríveis
por vezes adoptadas pelo estreante Tarsem Singh. Pela
dispersão devido às muitas "pontas soltas"
que ficam por aproveitar, nomeadamente o desperdício da
personagem interpretada por Vince Vaughn, a quem as moléstias
sofridas quando criança não transformaram num assassino,
e o desperdício da própria ideia do filme: a exploração
da mente, das motivações e das causas que levam
uma pessoa a transformar-se num serial killer. E por algumas
das soluções adoptadas porque num filme cujas imagens
tantas vezes surpreendem pela sensibilidade verdadeiramente artística
que encerram e sugerem, essas soluções - efeitos
especiais descabidos e "fáceis" - pecam por
ferir essa mesma sensibilidade tantas vezes despertada.
E é assim que um filme que poderia ter sido fenomenal
se fica pelo mais ou menos.
por
Catarina Moura |