"Afirmar a Região
Centro e dar a conhecer as nossas capacidades" foi o principal
motivo que levou o Conselho Empresarial do Centro - Câmara
de Comércio e Indústria do Centro (CEC-CCIC) a
realizar o seu III Congresso de Empresários. O evento
decorreu no sábado, 25 de Novembro, no Edifício
Expobeiras, na cidade de Viseu.
Cerca de mil empresários estiveram presentes para dar
voz às preocupações e necessidades sentidas
no dia-a-dia das suas empresas. Fernando Ruas, presidente da
Câmara Municipal viseense, deu início ao Encontro,
seguido de Almeida Henriques, presidente do CEC, do Presidente
da República, Jorge Sampaio, e de outros representantes
de organismos e associações empresariais da Região.
Durante o dia outras entidades estiveram presentes, nomeadamente
a ministra do Planeamento, Elisa Ferreira, o secretário
de Estado da Segurança Social, Vieira da Silva e, ainda,
o secretário de Estado Adjunto do ministro da Economia,
Vitor Ramalho.
Numa altura em que decorre a mudança do ciclo com o início
do III Quadro Comunitário de Apoio (QCA), surge a preocupação
de "uma séria reflexão necessária e
útil, de modo a aproveitar o mais possível, os
financiamentos disponíveis". Quem o defende é
Almeida Henriques que considera chegado o momento para "cada
um de nós assumir responsabilidades e termos consciência
do nosso papel na economia do País".
Apesar dos números indicarem que a mais alta taxa de desemprego
se verifica na Região Centro, a realidade não se
define apenas nesse campo. A falta de produtividade, a falta
de pessoal qualificado, a falta de massa crítica, a falta
de acessibilidades e a falta de voz activa perante o Estado,
são algumas das actuais preocupações dos
empresários. Contudo, Almeida Henriques salienta: "O
primeiro passo tem que ser nosso. Não basta reivindicar,
é preciso actuar". Assim, e de forma a aproveitar
a presença do Presidente da República, que presidiu
à cerimónia de abertura, passou a enumerar algumas
das prioridades requeridas pelas empresas do Interior ao Governo.
A aposta na ferrovia, promovendo a aproximação
a Espanha e a toda a Comunidade Europeia, a reforma da fiscalidade
e da administração das empresas, um maior rigor
na exigência dos alunos e dos professores e a flexibilização
das leis e horários laborais, que permitam adoptar as
forças de trabalho às novas exigências, são
algumas necessidades urgentes. Razões suficientes para
o presidente do CEC afirmar: "É necessário
unirmos esforços para ganharmos voz a nível nacional,
não só neste Congresso, que é um exemplo
vivo da dinâmica empresarial do Centro, mas durante todo
o sempre".
Aumentar produtividade e
qualidade
"À procura de uma nova centralidade" foi a palavra
de ordem do Congresso que acolheu seis capitais de distrito:
Castelo Branco, Guarda, Viseu, Leiria, Coimbra e Aveiro. Encontrar
as linhas mestras para a implementação de uma estratégia
de desenvolvimento económico para o Centro e, consequentemente,
para Portugal, é o objectivo.
A pensar nessa medida, o professor Augusto Mateus, criador do
conhecido "Plano Mateus", desenvolveu e apresentou
um estudo de diagnóstico de situação e de
modelo de desenvolvimento regional, integrador das diversas identidades
distritais (ver caixa). Também Henrique Neto, representante
da Iberomoldes, da Marinha Grande, e um exemplo de sucesso empresarial,
reflectiu sobre a situação e apresentou um pequeno
esquema, "Desafios Empresariais do Novo Milénio -
Aposta no Sector Produtivo, na Tecnologia e na Inovação",
onde destaca as razões da baixa produtividade e as soluções
para ela.
Numa região que se debate com problemas como a falta de
qualificação de recursos humanos, de infra-estruturas
científicas, tecnológicas, energéticas,
comunicacionais, entre outras, "é urgente alterar
o modelo e as prioridades do nosso desenvolvimento económico
e olhar para o que está a ser feito nos outros países.
Assumir uma maior ambição na competição
internacional e superar o estado de auto-contentamento existente",
afirma o representante. O mesmo refere que a relação
de troca da nossa economia com o exterior é "altamente
desfavorável a Portugal, na medida em que aquilo que produzimos
não dá para pagar o que consumimos". Apesar
de atingirmos o pleno emprego, "o déficie da nossa
balança comercial continua a crescer e o Estado continua
a apostar nas grandes urbes de Lisboa e Porto, promovendo a marginalização
do Interior". Por isso, acrescenta Henrique Neto: "Os
empresários devem ter sentido patriótico de reagir".
Mesmo assim, o futuro da Região está, segundo João
Vasco Ribeiro, presidente da Comissão de Coordenação
da Região Centro (CCRC), "sobretudo no aumento significativo
da produtividade". Para isso, "é primordial
uma política regional que ajude as novas empresas na qualidade,
no design, na exploração dos novos mercados, pois
só assim podemos inovar e aceder ao conhecimento capaz
de produzir melhor", defende.
Contudo, o aumento da produção confina-se, também,
a outros aspectos referidos por Pina Moura, Ministro das Finanças,
em relação às medidas do actual Governo.
Apesar de há 15 anos, com a entrada na União Europeia,
Portugal ter atingido um enquadramento mais coeso na economia
e na sociedade, o ministro diz que "temos que encarar o
progresso num novo modelo de crescimento, mais rápido
e mais competitivo do que os nossos parceiros". E acrescenta:
"É preciso apostar numa formação mais
eficiente de capital humano de qualidade, não só
com mais, mas com melhor formação no sistema global".
O posicionamento do mercado de trabalho é, segundo Pina
Moura, "essencial e exige melhor qualificação
a todos os níveis e maior flexibilidade numa visão
equilibrada entre o espírito de responsabilidade no quadro
dos trabalhadores e um conjunto de garantias sociais onde o mundo
empresarial tenha que concorrer". Assim, de forma a deixar
o alerta aos empresários do Centro, o ministro declara:
"Cabe ao Estado e à política económica
dar respostas positivas para a escolha do caminho certo a seguir,
mas também cabe à sociedade civil e ao movimento
empresarial muito trabalho, iniciativa e ambição,
para termos um progresso que não poderemos desperdiçar
junto dos 15".
Mais acessos para a Beira
Interior
O distrito de Castelo Branco também esteve representado
e foi alvo de alguns apontamentos. Aqui, as necessidades centram-se,
principalmente, nos transportes, nas acessibilidades, na falta
de quadros qualificados e na inexistência de parcerias
entre as associações e as empresas.
Luís Veiga, presidente da NERCAB-Associação
Empresarial da Região de Castelo Branco, defende que "tem
que haver coesão entre os empresários do distrito,
pois só assim teremos massa crítica suficiente".
O problema dos acessos é prioritário para que haja
escoamento dos produtos, tanto a nível ferroviário,
como aéreo. O presidente da NERCAB afirma que está
em estudo a possibilidade de criar voos entre Lisboa e a Covilhã.
O TGV é outra alternativa, mas Luís Veiga não
a vê com bons olhos. "É um projecto que não
tem os pés bem assentes na terra. Só será
possível se tivermos modernização da Linha
da Beira Baixa e o efectivo apoio da União Europeia".
O presidente refere ainda, que na Beira Interior, "não
podemos pensar que viveremos apenas do turismo, do têxtil
e dos recursos naturais. Temos que apostar na universidade e
nos politécnicos que temos". "A formação
dos empresários é primordial para atingirmos formas
correctas de produtividade", garante o presidente albicastrense.
Assim, a unidade entre os organismos, a internacionalização
dos produtos e a reestruturação das organizações
empresariais, constituem "as principais chaves do sucesso
da Beira Interior". Luís Veiga salienta a importância
da união do Centro: "Temos que estar juntos, pois
só assim temos capacidade de reivindicar e de alcançarmos
o que nos faz falta". |