José Geraldes
|
Educação Light
A sociedade portuguesa de hoje
sofre de complacência. Complacência dos professores
para com os alunos, dos pais para com os filhos, dos que mandam
para com os súbditos. É o reino do deixa andar,
do não fazer ondas, do não desagradar.
Se porventura se toma uma atitude firme, em qualquer domínio,
é-se logo apelidado de duro, de tirano de ditador. Ou
seja, a disciplina não figura no catálogo dos valores
básicos da formação humana. O que se quer
é uma educação "light" que permita
fazer tudo, facilitar ao máximo, não ter exigências
de nenhuma ordem. A exigência equivale a autoritarismo,
não a desejo de perfeição.
Qual o resultado desta complacência? Vazio nas mentalidades,
nos costumes, na forma de estar na vida. Não se pensa,
não se reflecte, não se aprofunda o sentido da
existência. Os "meninos" e "meninas"
do Big Brother são a prova cabal desta complacência.
A sociedade portuguesa tem ali um espelho da sua auto-demissão
e do seu facilitismo.
Daniel Sampaio, insuspeito nestes assuntos, chegou a uma conclusão:
"Neste momento digo ser importante que os pais tenham autoridade
- o que não significa autoritarismo; que percebam haver
situações da vida dos filhos em que têm de
ajudá-los com muita firmeza a não irem por certos
caminhos. Os pais não podem transigir em dadas situações.
Há questões não susceptíveis de discussão".
(Diário de Notícias, 11 de Novembro, 2000). O médico
sabe do que fala, pois todos os seus livros procuram, acima de
tudo, explicar a compreensão dos jovens actuais.
A solução será uma sociedade repressiva?
De maneira nenhuma! O que é importante e fundamental centra-se
na responsabilidade. Não há educação
que valha onde os educadores fujam à responsabilidade
e não dêem responsabilidade. Porque a responsabilidade
é um sinal de confiança. E um exercício
- por vezes doloroso - da oportunidade de tomar a vida nas suas
mãos. Exercício que faz crescer a pessoa.
Devemos ter em conta - Daniel Sampaio observa o facto - de que
hoje há cada vez mais rapazes e raparigas na casa dos
20 anos com comportamentos de adolescência. Falta-lhes
maturidade. Razão: os "paizinhos" facilitaram-lhes
tudo. E estes jovens, incompletos na sua educação,
vivem, como adultos, uma dependência infantil dos pais.
Não é, sem razão, que os jovens abandonam
o lar para o casamento cada vez mais tarde!
Afinal há uma crise dos jovens porque "são
os pais hoje que estão em crise". É ainda
Daniel Sampaio que levanta a questão: "O grande problema
da sociedade actual é os pais com 40/50 anos. São
eles que estão em profunda crise porque não têm
ajuda não sabem onde procurar apoio, a quem colocar as
suas dúvidas sobre dilemas no processo de crescimento
e educação dos seus filhos. Os pais não
têm quem os oiça".
Uma pergunta: estes pais procuram a ajuda necessária?
Ou ficam à espera de que os agentes educativos vão
ao seu encontro? E quem lhes deve dar a ajuda de que precisam?
As associações de pais não podem desempenhar
esta tarefa? Ou é assunto para técnicas familiares?
Sabemos que a técnica não resolve problemas de
pessoas e do foro educativo porque se trata de um trabalho longo.
E não há soluções feitas à
medida.
Se os pais estão em crise, os filhos sofrem ainda maiores
consequências negativas. Mas não é no deixar
correr que o problema encontra uma saída. A complacência
só agrava mais ainda a situação. O remédio
é clássico: haja diálogo verdadeiro, até
porque "os jovens reflectem muito pouco, os pais reflectem
pouco com os filhos e os professores reflectem pouco com os alunos". |