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Centro da Cova da Beira
Alcoólicos Recuperados
inauguram sede
O Centro de Alcoólicos
Recuperados da Cova da Beira inaugurou no passado sábado,
dia 25 de Novembro de 2000, a sua sede na Covilhã. A cerimónia
de apresentação realizou-se no salão nobre
dos Bombeiros Voluntários da Covilhã.
Por
Claúdia Cardoso
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José Manuel
Amarelo, presidente da direcção do centro, e Carlos
Pinto na inauguração da nova sede
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O início da cerimónia
estava marcado para as 12 horas do dia 25 de Novembro. O atraso
do presidente da câmara, Carlos Pinto, motivou a espera
de uma hora. O público, na maioria alcoólicos recuperados
e suas famílias, não se desmotivou com a demora.
O presidente da assembleia geral do Centro de Alcoólicos
Recuperados da Cova da Beira deu início à cerimónia.
Depois de cumprimentar as diversas entidades presentes, salientou
que o alcoolismo é um problema que afecta a todos, mas
a iniciativa para o vencer tem de partir de cada um. Como prova
de reconhecimento pelo esforço pessoal foram entregues
diplomas de sobriedade aos alcoólicos tratados.
José Manuel Amarelo, alcoólico recuperado há
17 meses e presidente da direcção do centro, afirmou
que o trabalho que tem vindo a ser feito por este grupo é
árduo mas humanamente compensador, esperando que o esforço
seja reconhecido.
A inauguração de uma sede própria já
é uma vitória, mas José Manuel Amarelo alertou
ainda para a falta de algumas infra-estruturas de apoio, em especial,
de uma carrinha e um motorista, para a deslocação
dos doentes aos centros clínicos. Apelou às autoridades
públicas e privadas, "ajudem-nos a ajudar todos os
que de nós precisam, a recuperar o lugar na sociedade
a que temos direito", afirmou.
Carlos Pinto confessou que, apesar de saber da existência
do problema do alcoolismo na região não conhecia
a sua dimensão. A informação foi-lhe dada
por José Manuel Amarelo. Carlos Pinto mostrou satisfação,
alegria e reconhecimento pela acção que está
a ser levada a cabo por "pessoas solidárias que estão
por detrás deste movimento", caracterizou.
Reconhecendo que o alcoolismo não é apenas um problema
dos dependentes, é também das comunidades, Carlos
Pinto assumiu perante os presentes, o compromisso de que, no
futuro, projectos, acções e problemas deste centro
terão acolhimento por parte da Câmara, que se disponibiliza
a ajudar.
A comitiva e o público dirigiram-se, depois dos discursos,
à sede do centro na rua viela do Raimundo,1. Carlos Pinto
inaugurou a sede. Duas pequenas salas num edifício antigo,
recuperadas pelos ex alcoólicos, são agora a sede
do Centro de Alcoólicos recuperados da Cova da Beira.
José Manuel Amarelo reconhece que o espaço é
pequeno mas afirma que já é um grande passo na
luta para salvar pessoas alcoólicas.
Do programa do dia fez ainda parte um animado almoço no
Grupo Desportivo da Mata, seguido do leilão de uma bola
autografada pelos jogadores de futebol do Sporting Clube de Portugal,
arrematada pela quantia de 20.000escudos e de uma apresentação
dos donativos feitos ao centro pelas mais diversas entidades.
A animação esteve a cargo da fanfarra "Verde
e Amarelo". A tarde prometeu ainda torneios de malha e dança.
Reinou a animação neste dia promovido pelo Centro
de Alcoólicos Recuperados da Cova da Beira que luta pela
ajuda aos alcoólicos e suas famílias sob o lema
"Nós conseguimos. Tu também consegues".
Os jovens e o álcool
O empenho do Centro de Alcoólicos Recuperados traduz-se
também em acções de sensibilização
para os problemas do álcool. Neste sentido, realizou-se,
no dia 24 de Novembro, no Grupo de Instrução e
Recreio do Rodrigo (G.I.R.), uma sessão de esclarecimento.
O tema foi "Os jovens e o álcool". Os jovens
foram os grandes ausentes, apesar da sessão lhes ser dirigida.
Augusto Pinto, director do Centro Regional de Alcoologia de Coimbra
foi o principal orador. Apresentou o cenário do actual
do consumo de álcool, apontando para o cada vez mais precoce
uso de bebidas alcoólicas. As mulheres também se
estão a tornar grandes consumidoras, aproximando-se cada
vez mais dos níveis de consumo do sexo masculino.
O próprio tipo de bebidas está a mudar. Para trás
ficam já os tempos em que o vinho era a bebida alcoólica
mais consumida. A entrada e expansão no mercado da cerveja
e outras bebidas de grande teor alcoólico, bebidas doces,
fez diminuir o consumo de vinho, que no ano de 1997 era, em média,
de 53,2 litros por português. O actual mercado é
muito vasto, preparado para agradar a "gregos e a troianos".
Encontramo-nos numa situação em que "a sociedade
é muito permissiva no incentivo ao consumo de bebidas
alcoólicas", diz Augusto Pinto, referindo-se à
publicidade aliciante que enche os olhos do público, incutindo
grandes qualidades às bebidas alcoólicas.
Portugal está nas posições cimeiras ao nível
do consumo de álcool, só superado pelo Luxemburgo.
Segundo Augusto Pinto, a solução do consumo excessivo
de bebidas alcoólicas passa pela legislação
e pela educação que não deve sair só
das escolas. As próprias famílias têm de
dar o exemplo.
O álcool não é apenas um flagelo para quem
o consome, arrasta também a sociedade já que é
responsável, muitas vezes, pelo mau ambiente familiar
e laboral, originando acidentes de trabalho e perdas de emprego,
bem como também é responsável por muitos
acidentes de viação e alguns tipos de criminalidade,
nomeadamente furtos, práticas incendiárias, crimes
sexuais e mesmo homicídios de que muitas vezes os protagonistas
nem se lembram.
O alcoolismo é uma doença crónica mas pode
ser tratado, havendo, no entanto, a necessidade de uma abstinência
total, já que sempre que o álcool for introduzido
desperta-se o vício, alerta Augusto Pinto, que reconhece
também o grande papel dos centros de recuperação
nesta luta.
No final, Augusto Pinto deixou uma mensagem aos jovens, "é
possível viver tudo, saborear tudo sem recorrer ao álcool". |
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