António
Fidalgo |
Um exemplo a
seguir
O Sr. José Travassos doou
à Biblioteca da UBI um precioso acervo de livros sobre
Angola. Os livros encontram-se expostos temporariamente no átrio
do Edifício das Ciências Sociais, antiga Fábrica
Ernesto Cruz, à Carpinteira. Do acervo constam livros
raros e valiosos, alguns sendo primeiras e únicas edições,
sobre a antiga colónia portuguesa.
Aqui está um gesto que é um exemplo; e tanto mais
exemplar quanto não existe nos países latinos uma
cultura filantrópica de legados e doações.
Nos Estados Unidos da América é habitual as pessoas
que singraram na vida, que juntaram riqueza, partilhar essa riqueza
com a comunidade. Não haverá no novo continente
instituição que não tenha os seus benfeitores.
Mais do que em qualquer outra parte do mundo, exige-se e fomenta-se
o sucesso individual, mas, ao mesmo tempo, espera-se que parte
desse sucesso reverta para a comunidade em forma de dávida.
É comum na América os antigos alunos de uma universidade,
pública ou privada, serem chamados a contribuir monetariamente
para a universidade (o famoso fund raising). Laboratórios,
bibliotecas, anfiteatros, são em muitos casos ofertas
de benfeitores, que pelos mais diversos motivos acham dever
dar o seu contributo à universidade.
Não temos nos países europeus tradição
idêntica, para já não falar na América
Latina ou em África, onde Estado e instituições
colectivas são vistos por vezes como sacos a saque. Nos
Estados Unidos espera-se que cada um, incluíndo os filhos
dos ricos, se faça por si. E daí a admiração
pelo self made man, pelo homem que subiu a pulso na vida. Ao
invés, na nossa tradição, espera-se que
a família dê todo o apoio aos rebentos, pelo que
os bens adquiridos ao longo de uma vida não devem sair
do património familiar. Frequentemente o resultado são
filhos habituados à papa feita, incapazes de gerarem nova
riqueza, mas bem capazes de desbaratar facilmente o que os pais
juntaram.
Há na Covilhã exemplos de filantropia dignos de
nota, nomeadamente a casa da cultura da D. Maria José
Alçada. Mas a UBI poderia e deveria beneficiar muito
mais de gestos como o do Sr. José Travassos. Até
porque, e finalizando, os livros deixados a uma biblioteca universitária
serão bem mais úteis do que livros tornados arquivo
morto de herdeiros a quem muitas vezes não suscitam qualquer
interesse.
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