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Portubi promove
Dois dias de Literatura

POR CLAÚDIA CARDOSO

O núcleo de estudantes de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade da Beira Interior (Portubi) organizou uma iniciativa a que deram o nome "Dois dias de Literatura": duas palestras e um recital de poesia. Realizou-se nos dias 15 e 16 de Novembro de 2000.

 

A primeira palestra ocorreu no dia 15 de Novembro, pelas 15 horas, no anfiteatro 7.21, no pólo IV da Universidade da Beira Interior. Proferida pelo Prof. Mota da Romana, teve como tema "Eça de Queirós - Jornalista".
"A Literatura é um grande espaço de liberdade". Foi com esta frase que Antonieta Garcia, docente na U.B.I., em representação do Prof. Santos Pereira, deu início à palestra do dia 16 de Novembro. Realizou-se no mesmo anfiteatro e contou com a participação, como oradoras, de Maria de Lurdes Barata, professora na Escola Superior de Educação de Castelo Branco e Cristina Vieira, docente das disciplinas de Literatura Portuguesa, Literaturas Africanas de expressão Portuguesa e Literatura Brasileira na U.B.I.. O tema foi "Movimento Presença/ Miguel Torga".
Maria de Lurdes Barata traçou o itinerário poético de Miguel Torga. Através da leitura e análise de poemas revelou o homem e o poeta que Miguel Torga foi. Apresentou-o como um ser humano especial em que a poesia funciona "como expressão a alma apaixonada pela vida e a luta pela liberdade".
Revolucionário, amante da vida, lutador e incitador à luta, alguém a quem a morte afligia desde criança e para quem é pela palavra que nos libertamos da morte e do esquecimento, são características que o definem e que transparecem da sua obra.
Definido por alguns autores como uma pessoa impossível no trato e acusado de ter pacto com o diabo, Torga servia-se, por vezes, na sua obra, do satanismo como resposta às críticas. "É contra um poder que é Deus enquanto poder secular que ajudou a tirania e a ditadura", diz Maria de Lurdes Barata.
Miguel Torga era um "homem de grande austeridade e defensor de valores, uma voz incomodativa", caracteriza Maria de Lurdes.
Após um intervalo a palestra foi retomada. Nesta segunda parte, Cristina Vieira apresentou a revista "Presença". O primeiro número desta revista surgiu a 10 de Março de 1927. Ao longo da sua tumultuosa existência de 13 anos contou com a colaboração de José Régio, João Gaspar Simões, Adolfo Casais Monteiro, Branquinho da Fonseca, Miguel Torga e Edmundo de Bettencourt, sendo dissidentes os três últimos.
Revista de Modernidade e Modernismo, a "Presença" tinha por objectivo acabar com a pompa do academismo e "agitar as águas estagnadas do panorama literário português", refere Cristina Vieira. "Luta desde o primeiro número por uma arte inovadora, original, originalidade essa assente numa sinceridade e não numa obrigatoriedade em ser original", salienta ainda a docente.
"Dois dias de Literatura" foi aquilo que Antonieta Garcia espera ser "a primeira de muitas iniciativas" organizadas pelo núcleo Portubi.

Poesia fora d'horas

No dia 15 de Novembro, pelas 22 horas e 30, o bar Fora d'Horas, na Covilhã, decorado a rigor, foi palco de um recital de poesia, integrado no programa "Dois dias de Literatura".
A ideia partiu de um grupo de amigos interessados e unidos pelo amor à poesia. "O núcleo de estudantes de Língua e Cultura Portuguesa (Portubi) limitou-se a dar oportunidade a que essa iniciativa tomasse rumo", diz Rita Carrilho, presidente do núcleo.
Sem respeitar datas ou cronologias de movimentos literários, recitou-se poesia ao som de suave música de fundo.
Alunos de vários anos do curso de Língua e Cultura Portuguesa e uma aluna do terceiro ano de Ciências da Comunicação apresentaram ao público, que enchia o bar, um repertório muito diverso com poemas de nomes como Eugénio de Andrade, Mário de Sá Carneiro, José Régio, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Al Berto, José Saramago, entre outros.
"O objectivo, em parte, desta iniciativa é divulgar a poesia portuguesa e tentar despertar a paixão pela mesma em pessoas menos receptivas", diz Bruno Carvalho, aluno do terceiro ano do curso Língua e Cultura Portuguesa, que recitou o poema "Há metafísica bastante em não pensar em nada" de Alberto Caeiro.
Está já em vista outra iniciativa do género mas apenas dedicada a Fernando Pessoa.

 

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