Cosmopolitas
e locais
Sendo as organizações
essencialmente constituídas por pessoas, a orientação
que tais organizações assumem dependerá,
obviamente, da forma como as pessoas que as constituem concebam
e desempenhem o seu papel nessas organizações.
Ora, segundo Alvin Gouldner, é possível distinguir
em qualquer organização duas formas de conceber
e desempenhar tal papel: a dos "cosmopolitas" e a dos
"locais". Enquanto os primeiros se situam nas organizações
como "profissionais", tomando como ponto de referência
da sua actividade o desempenho numa profissão que é
de âmbito nacional e mesmo internacional, já os
segundos se situam nas organizações como "burocratas",
tomando como ponto de referência da sua actividade a carreira
na organização concreta a que pertencem.
Em termos da orientação da organização,
a distinção de Gouldner tem pelo menos as seguintes
consequências fundamentais: enquanto os "cosmopolitas"
se preocupam com a afirmação da organização
ao nível global (nacional e mesmo internacional), os "locais"
preocupam-se com a afirmação da organização
no contexto local (e regional); enquanto os "cosmopolitas"
tendem a encarar a organização como um sistema
aberto e interdependente, os "locais" tendem a encarar
a organização como um sistema fechado e auto-suficiente;
enquanto os "cosmopolitas" concebem a sobrevivência
da organização em termos de uma adaptação
flexível a uma ecologia social cada vez mais incerta,
os "locais" concebem a sobrevivência da organização
em termos de um funcionamento rígido submetido a regras
mais ou menos inflexíveis.
O dilema das organizações não reside em
eliminar uma ou outra destas perspectivas - já que elas
não podem deixar de coexistir (e confrontar-se) em qualquer
organização. O dilema reside sim em saber a qual
delas deverão as organizações dar a predominância
(e o "poder"). Ora, num mundo como o nosso, em que
as mutações são permanentes, cada vez mais
rápidas e de alcance cada vez mais amplo, a predominância
dos "locais" sobre os "cosmopolitas", dos
"burocratas" sobre os "profissionais" parece
representar, para qualquer organização, um suicídio
mais ou menos anunciado.
Não ver isto é, como diz o povo, "chover no
molhado". Com o resultado caricato de os S. Pedros das organizações
demasiado "localizadas" e "burocratizadas"
serem, afinal de contas, os primeiros a afogar-se.
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