prazer
por
Edmundo
Cordeiro
Há para Kant um tipo de
representação que é estética, quer
dizer, que não depende de nenhum conceito, uma representação
que, sendo todavia do objecto, não é a ele relacionada,
mas ao sujeito, ao sentimento de prazer e dor do sujeito. Essa
representação manifesta no sujeito, no seu estado
de espírito, qualquer coisa do trabalho das faculdades
do conhecimento, e isso fá-la estar, apesar de tudo, em
concordância com as condições da universalidade.
Trata-se pois da representação
que está em causa no juízo estético do tipo
"é belo". Ao dizermos qualquer coisa bela não
dizemos nada em termos de conhecimento do objecto, mas expressamos,
sim, um sentimento que é de prazer. E, mais, que é
de prazer desinteressado, na medida em que não está
em causa a existência física, moral ou utilitária
do objecto. Todos os prazeres que eventualmente resultem destas
últimas representações são interessados,
negam por isso quanto ao príncípio a validade de
um puro juízo estético.
Mas é no entanto um prazer
que advém da representação do objecto, dado
que é "dele", que está ali à nossa
frente, que se reflecte a pura forma na imaginação
Ora, é essa representação que vai mobilizar
as faculdades (a imaginação e o entendimento) a
um livre jogo, justamente porque não há um conceito
que as limite a um exercício particular. É esse
acordo que deve ser pressuposto para todo o conhecimento: que
a imaginação (que apreende e compõe o diverso)
e que o entendimento (que fornece o conceito e unifica o diverso)
possam livremente entender-se e que isso possa livremente suceder
em todo o homem, em "qualquer um que está destinado
a julgar através do entendimento e sentidos coligados".
É isso que está na origem do prazer, é isso
que define o "estado de espírito" que se comunica
universalmente no juízo do tipo "isto é belo".
Esse estado de espírito
não pode ser conhecido, unicamente pode ser sentido. Não
se pode conhecer o prazer, para Kant.
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