Simpósio Sociológico
Internacional Bilingue
Educar para a Territorialidade
POR NÉLIA SOUSA
A Universidade da Beira
Interior realizou, em conjunto com a Universidade do Algarve,
o primeiro Simpósio Sociológico Internacional Bilingue
subordinado ao tema "Territórios e Educação".
O colóquio contou com a presença de alguns investigadores
portugueses e franceses, na área da sociologia e educação,
que focaram a importância que o local continua a ter numa
sociedade cada vez mais global. O evento foi ocasião para
a apresentação do livro Terra-Vida-Alma Valongo
do Côa, uma obra que retrata a vida desta aldeia ao mesmo
tempo que pretende chamar a atenção para a necessidade
de revitalizar as aldeias do interior do país.
O Simpósio encerrou ao som da tuna feminina da UBI onde
não faltou a participação de um dos palestrantes
que mostrou, também, os seus dotes musicais. Ali Aït
Abdelmalek pegou na viola tocou, cantou e encantou.
A desertificação
das zonas rurais do interior é um problema que afecta
as sociedades modernas. Para debater e combater esta situação
realizou-se na Universidade da Beira Interior um Simpósio
Sociológico Internacional Bilingue que pôs em discussão
a importância do território local na construção
das identidades próprias e dos valores sociais e a crescente
explosão dos territórios reais e simbólicos
devido aos sistemas de comunicação e informação.
Numa sociedade cada vez mais global e complexa a noção
de enraizamento perde cada vez mais sentido. Contudo, Teresa
Carreira, docente na Universidade do Algarve (Ualg), defende
que apesar de hoje respondermos mais à identidade profissional
a identidade colectiva, territorial não dev ser deixada
de lado "Ainda que hoje a importância desta identidade
territorial seja menor não deixamos de fazer ao longo
da vida muitas referências ao local" afirma.
A procura de uma melhoria de vida levou a que muitas aldeias
do interior do país se deparassem com a terrível
noção de desertificação. Hoje essas
aldeias são habitadas por uma população
maioritariamente envelhecida e quase esquecida pela maioria dos
cidadãos. Para impedir esta situação é
necessário, segundo Alice Tomé, socióloga
e docente na UBI, que por um lado se criem laços culturais
e que por outro os cidadãos que partem destas zonas não
esqueçam a sua identidade e façãm conhecer
não só as suas características locais mas
alertem para a desertificação do interior.
Outra noção abordada neste Simpósio e também
ela ligada à questão de território foi a
noção de cidadania. Segundo Alice Tomé "ser
cidadão no mundo implica deveres universais, sem fronteiras.
Significa a riqueza não apenas do seu povo mas de todos
os povos". O primeiro passo para essa cidadania é
a identificação do indivíduo a um local,
uma região, um país, língua e cultura.
O Simpósio teve, na opinião de Alice Tomé,
um balanço positivo tanto para a UBI como para os seus
estudantes, pois o objectivo foi alcançado. "O que
se pretendia era alertar as populações para a questão
da territorialidade mas uma territorialidade da interioridade
e construção das respectivas identidades"
refere.
Quanto à organização em 2001 de um segundo
Simpósio Alice Tomé adiantou que é "
provável que antes desse segundo Simpósio ligado
a esta temática tenha existência as quartas jornadas
internacionais bilingues de educação comparada."
Escolas Periféricas
Numa sociedade de incertezas
e num mundo de ambiguidades como educar para os valores locais,
nacionais e transnacionais? Para os cientistas presentes neste
Simpósio as escolas desempenham aqui um papel fundamental
na medida em que ajudam os jovens a valorizar os espaços
locais. A relação pedagógica é também
importante para o desenvolvimento pessoal e social do aluno e
do professor. "A pessoa constrói-se na relação
com os outros e com os outros desenvolve-se e faz desenvolver-se"
afirma Fernando Nogueira Dias professor de Sociologia na Universidade
Lusófona. Para este professor a comunicação
na sala de aula é muito importante sendo que o aluno não
pode ser visto como um consumidor passivo de saberes, mas como
um sistema aberto que recebe mas também contribui para
o todo da relação.
Um outro problema apresentado neste colóquio foi o afastamento
das escolas periféricas relativamente ao centro. Para
Victor Alaíz, docente na Ualg é necessário
agrupar as escolas isoladas e dispersas de forma a que estas
tenham um maior contacto com o exterior. Victor Alaiz e Teresa
Carreira desenvolveram um projecto que partiu das dificuldades
sentidas pelas escolas básicas algarvias no seu processo
de construção da autonomia. Para resolver estes
problemas desenvolveram a ideia de uma cooperação
pedagógica entre as escolas de forma a que os alunos recebam
através do contacto com outras escolas informação
artística, desportiva, informática e iniciação
a uma língua estrangeira. A articulação
com as autarquias e outras entidades que anteriormente não
tinham qualquer ligação foi um passo importante
porque deu às escolas um maior poder.
Para este docente "os agrupamentos constituem um desenvolvimento
organizacional que apesar dos múltiplos saltos vai no
sentido da valorização do local, no sentido da
territorialidade educativa e com isso facilitar as aprendizagens
e o desenvolvimento dos alunos destas escolas tão afastadas
dos centros".
Actualmente as escolas são vistas como instituições
que contribuem para a reprodução das desigualdades
sociais. De um lado existem as escolas públicas em crise
e do outro as escolas privadas ao serviço de uma minoria
de privilegiados. No entender de Ali Aït Abdelmalek, mestre
de de Sociologia na Universidade de Rennes 2, isto terá
de desaparecer. A descentralização da educação
é um princípio que deve ser apoiado cada vez mais.
"Não nascemos cidadãos, tornamo-nos sim cidadãos
através da educação" afirma.
Para que isso aconteça este sociólogo defende que
o Estado como instituição ao serviço do
cidadão "deverá regular e garantir a unidade
do sistema educativo e conjuntamente com as colectividades locais
e os indivíduos favorecidos participar na educação
dos mais pobres. Esta é a condição necessária
para falar de cidadania"
Educação é
Formação
O segundo dia do Simpósio
foi marcado pela presença de Alain Prigent, docente na
Universidade de Paris 1/Sorbonne. Para este sociólogo
a educação também se deve desenvolver ao
nível do trabalho, de forma a garantir ao trabalhador
uma formação profissional adequada. Esta formação
tem por objectivo permitir a adaptação dos trabalhadores
às mudanças de técnicas e condições
de trabalho, favorecer a sua promoção social através
do acesso aos diferentes níveis da cultura e da qualificação
profissional e contribuir para o desenvolvimento cultural, económico
e social.
Na opinião de Alain Prigent apostar na educação
permanente como forma de elevar o nível laboral deverá
ser uma meta a atingir
A educação permanente está a ser regulada
pela Convenção nº140 votada em 1974. Esta
Convenção tem como interesses igualar a formação
dos trabalhadores a nível qualificativo, cultural ou universitário
e a nível dos patronatos.
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