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Docentes da UBI apresentam obra
Regresso às origens

"Terra-Vida-Alma Valongo do Côa" é o título de um novo livro da autoria de Francisco Carreira Tomé, Alice Tomé, Teresa Pires Carreira, Nuno Rafael Tomé e Filipe Alexandre Carreira. Esta obra, cuja apresentação ocorreu no primeiro dia do Simpósio Sociológico Internacional Bilingue, é o resultado de um longo trabalho de investigação sobre uma terra que nas palavras de Teresa Carreira "sendo mais pequena, precisa de mais ajuda para existir, para não ser esquecida".
Editado pela Editorial Minerva o livro foca os aspectos históricos, sociais, antropológicos, culturais e etnográficos de Valongo do Côa.
Carregado de forte emotividade e carga poética a obra "é um sonho que vinha de longe, construir algo sobre o local numa terra tão reduzida que agora passará de alguma forma a estar mais clara no mapa, refere Teresa Carreira, uma das autoras.
Com uma estratégia transversal, o livro pretende ser uma luta contra a corrente da globalização e a corrente do esquecimento dos pequenos lugares. "Vivemos hoje numa aldeia global, desenraizada em muitos aspectos tais como culturais, urbanísticos e emocionais porque há uma perda e um desequilíbrio em termos emocionais, sentimentais com as nossas origens com as nossas terras natais" adianta Angelo Rodrigues, editor da Editorial Minerva.
Teresa Carreira referiu na apresentação do livro que este pretende sobretudo realçar o facto de que a ruralidade raramente quer dizer ignorância. "Porque há muitos saberes nas zonas rurais, há muitas inteligências colectivas para subsistir e muitas formas de trabalhar e utilizar os produtos locais" esclarece.
Este livro pretende ser, também, uma chamada de atenção para a juventude citadina que utilizam muitas vezes referências tradicionais mas que não sabem que são de origem rural.
Apesar de didáctico e pedagógico o livro não é unicamente uma obra académica mas uma obra que está acessível a todos dada a simplicidade da sua linguagem. Para Alice Tomé outra das autoras, Terra-Vida-Alma Valongo do Côa "é um livro que poderíamos dizer quase sem limites e quase sem fronteiras"
Quanto ao futuro desta obra, escrita por autores com uma enorme paixão pelas suas raízes, Alice Tomé diz: "Espero que faça o seu caminho tanto dentro do próprio povo dito cultura popular como dentro da cultura chamada intelectual".



Simpósio Sociológico Internacional Bilingue
Educar para a Territorialidade

POR NÉLIA SOUSA

A Universidade da Beira Interior realizou, em conjunto com a Universidade do Algarve, o primeiro Simpósio Sociológico Internacional Bilingue subordinado ao tema "Territórios e Educação". O colóquio contou com a presença de alguns investigadores portugueses e franceses, na área da sociologia e educação, que focaram a importância que o local continua a ter numa sociedade cada vez mais global. O evento foi ocasião para a apresentação do livro Terra-Vida-Alma Valongo do Côa, uma obra que retrata a vida desta aldeia ao mesmo tempo que pretende chamar a atenção para a necessidade de revitalizar as aldeias do interior do país.
O Simpósio encerrou ao som da tuna feminina da UBI onde não faltou a participação de um dos palestrantes que mostrou, também, os seus dotes musicais. Ali Aït Abdelmalek pegou na viola tocou, cantou e encantou.

A desertificação das zonas rurais do interior é um problema que afecta as sociedades modernas. Para debater e combater esta situação realizou-se na Universidade da Beira Interior um Simpósio Sociológico Internacional Bilingue que pôs em discussão a importância do território local na construção das identidades próprias e dos valores sociais e a crescente explosão dos territórios reais e simbólicos devido aos sistemas de comunicação e informação.
Numa sociedade cada vez mais global e complexa a noção de enraizamento perde cada vez mais sentido. Contudo, Teresa Carreira, docente na Universidade do Algarve (Ualg), defende que apesar de hoje respondermos mais à identidade profissional a identidade colectiva, territorial não dev ser deixada de lado "Ainda que hoje a importância desta identidade territorial seja menor não deixamos de fazer ao longo da vida muitas referências ao local" afirma.
A procura de uma melhoria de vida levou a que muitas aldeias do interior do país se deparassem com a terrível noção de desertificação. Hoje essas aldeias são habitadas por uma população maioritariamente envelhecida e quase esquecida pela maioria dos cidadãos. Para impedir esta situação é necessário, segundo Alice Tomé, socióloga e docente na UBI, que por um lado se criem laços culturais e que por outro os cidadãos que partem destas zonas não esqueçam a sua identidade e façãm conhecer não só as suas características locais mas alertem para a desertificação do interior.
Outra noção abordada neste Simpósio e também ela ligada à questão de território foi a noção de cidadania. Segundo Alice Tomé "ser cidadão no mundo implica deveres universais, sem fronteiras. Significa a riqueza não apenas do seu povo mas de todos os povos". O primeiro passo para essa cidadania é a identificação do indivíduo a um local, uma região, um país, língua e cultura.
O Simpósio teve, na opinião de Alice Tomé, um balanço positivo tanto para a UBI como para os seus estudantes, pois o objectivo foi alcançado. "O que se pretendia era alertar as populações para a questão da territorialidade mas uma territorialidade da interioridade e construção das respectivas identidades" refere.
Quanto à organização em 2001 de um segundo Simpósio Alice Tomé adiantou que é " provável que antes desse segundo Simpósio ligado a esta temática tenha existência as quartas jornadas internacionais bilingues de educação comparada."

Escolas Periféricas

Numa sociedade de incertezas e num mundo de ambiguidades como educar para os valores locais, nacionais e transnacionais? Para os cientistas presentes neste Simpósio as escolas desempenham aqui um papel fundamental na medida em que ajudam os jovens a valorizar os espaços locais. A relação pedagógica é também importante para o desenvolvimento pessoal e social do aluno e do professor. "A pessoa constrói-se na relação com os outros e com os outros desenvolve-se e faz desenvolver-se" afirma Fernando Nogueira Dias professor de Sociologia na Universidade Lusófona. Para este professor a comunicação na sala de aula é muito importante sendo que o aluno não pode ser visto como um consumidor passivo de saberes, mas como um sistema aberto que recebe mas também contribui para o todo da relação.
Um outro problema apresentado neste colóquio foi o afastamento das escolas periféricas relativamente ao centro. Para Victor Alaíz, docente na Ualg é necessário agrupar as escolas isoladas e dispersas de forma a que estas tenham um maior contacto com o exterior. Victor Alaiz e Teresa Carreira desenvolveram um projecto que partiu das dificuldades sentidas pelas escolas básicas algarvias no seu processo de construção da autonomia. Para resolver estes problemas desenvolveram a ideia de uma cooperação pedagógica entre as escolas de forma a que os alunos recebam através do contacto com outras escolas informação artística, desportiva, informática e iniciação a uma língua estrangeira. A articulação com as autarquias e outras entidades que anteriormente não tinham qualquer ligação foi um passo importante porque deu às escolas um maior poder.
Para este docente "os agrupamentos constituem um desenvolvimento organizacional que apesar dos múltiplos saltos vai no sentido da valorização do local, no sentido da territorialidade educativa e com isso facilitar as aprendizagens e o desenvolvimento dos alunos destas escolas tão afastadas dos centros".
Actualmente as escolas são vistas como instituições que contribuem para a reprodução das desigualdades sociais. De um lado existem as escolas públicas em crise e do outro as escolas privadas ao serviço de uma minoria de privilegiados. No entender de Ali Aït Abdelmalek, mestre de de Sociologia na Universidade de Rennes 2, isto terá de desaparecer. A descentralização da educação é um princípio que deve ser apoiado cada vez mais. "Não nascemos cidadãos, tornamo-nos sim cidadãos através da educação" afirma.
Para que isso aconteça este sociólogo defende que o Estado como instituição ao serviço do cidadão "deverá regular e garantir a unidade do sistema educativo e conjuntamente com as colectividades locais e os indivíduos favorecidos participar na educação dos mais pobres. Esta é a condição necessária para falar de cidadania"

Educação é Formação

O segundo dia do Simpósio foi marcado pela presença de Alain Prigent, docente na Universidade de Paris 1/Sorbonne. Para este sociólogo a educação também se deve desenvolver ao nível do trabalho, de forma a garantir ao trabalhador uma formação profissional adequada. Esta formação tem por objectivo permitir a adaptação dos trabalhadores às mudanças de técnicas e condições de trabalho, favorecer a sua promoção social através do acesso aos diferentes níveis da cultura e da qualificação profissional e contribuir para o desenvolvimento cultural, económico e social.
Na opinião de Alain Prigent apostar na educação permanente como forma de elevar o nível laboral deverá ser uma meta a atingir
A educação permanente está a ser regulada pela Convenção nº140 votada em 1974. Esta Convenção tem como interesses igualar a formação dos trabalhadores a nível qualificativo, cultural ou universitário e a nível dos patronatos.






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