Faculdade de Ciências
da Saúde em preparação
Medicina para o século
XXI
POR RAQUEL FRAGATA
O
Ensino da Medicina no século XXI foi o tema do seminário
realizado na 6ª Fase do Pólo I da Universidade da
Beira Interior, na sexta feira, dia 10. A apresentação
do plano de implementação da Faculdade de Ciências
da Saúde na UBI contou com intervenções
dos docentes já em funções e uma exposição
dos novos métodos e tendências de formação
nesta área.
O Reitor da UBI, Manuel Santos
Silva, abriu a sessão fazendo o ponto da situação
do processo de instalação da licenciatura em Medicina
na Covilhã.
O principal orador da sessão foi o médico Professor
Catedrático de Neurologia na Faculdade de Medicina da
Universidade de Salamanca, Júlio Fermoso. O elemento da
Comissão Externa de Acompanhamento da Faculdade de Medicina
da UBI centrou a sua intervenção nos novos modelos
de ensino da medicina.
A tónica foi colocada na questão entre a necessidade
de ensinar ou aprender o exercício da medicina. "Tem
de estar centrado no aluno e não no professor, na aprendizagem
e não no ensino, nos problemas e não nas licenciaturas,
na comunidade e não só nos hospital, em currículos
flexíveis e não em conteúdos rígidos",
defendeu.
Júlio Fermoso sublinhou assim o importante papel das novas
universidades para contrariar a "ossificação
e arterioesclorose curricular" no ensino da medicina. Defende
para isso a aposta no modelo da Aprendizagem Por Problemas (APP)
como forma de substituir os estudos ultrapassados, que não
permitem a exercitação da capacidade resolutiva
dos alunos. "Aprender é capacitar para adaptações
a novas circunstâncias, porque nunca há dois problemas
iguais."
Com uma experiência alargada no planeamento da educação
em Ciências da Saúde, Júlio Fermoso sublinhou
a importância da UBI implementar um projecto de ensino
da medicina inovador a nível nacional, que acompanha a
tendência das mais modernas universidades estrangeiras.
"Nunca vi nem em Espanha, nem em França, nem em Inglaterra
que são os que melhor conheço, em nenhum Hospital
este nível de implantação das novas tecnologias
para diagnóstico e comunicação inter-serviços,
imagine-se a riqueza que é para oferecer não aos
estudantes mas aos futuros médicos desta Universidade",
afirmou.
Mover montanhas
Este novo e complexo método
de aprendizagem debate-se com vários problemas. A resistência
burocrática, a ausência de cultura de aprendizagem,
o conservadorismo por parte da classe médica têm,
na opinião do neurologista, forçado o ensino a
uma profunda hipertrofia. "É mais fácil mover
uma montanha do que alterar os planos curriculares de Medicina."
O Reitor da UBI, Santos Silva, frisou a importância e,
ao mesmo tempo, a dificuldade acrescida de implementar esta nova
formação no Interior. "Foram abertas candidaturas
a nível internacional que permitiram seleccionar um conjunto
de doutorados, dos quais oito se encontram já ao serviço.
A curto prazo está prevista a contratação
de mais cinco", garantiu. E reforçou a necessidade
da colaboração dos médicos do sistema de
Saúde dos distritos de Castelo Branco e Guarda, tal como
disposto na Portaria de Articulação.
Santos Silva defende também a solidificação
da cooperação transfronteiriça com universidades
espanholas no âmbito do programa INTERREG. E anunciou:
"Hoje mesmo está uma equipa de professores da UBI
em Salamanca a tentar fazer um levantamento de projectos que
se possam desenvolver em comum."
Medicina do futuro
O modelo pedagógico a
seguir pela UBI incidirá sobretudo no espírito
profissionalizante, de características inovadoras e de
estímulo à práctica multidisciplinar. "O
objectivo da UBI é formar 100 licenciados por ano, dando-lhes
uma formação básica, clínica e humana",
afirmou Ana Macedo, doutorada em Hematologia pela Universidade
de Salamanca e docente da UBI.
Na aplicação deste modelo de ensino trabalhará
o Gabinete de Educação Médica. "Este
terá como função não só o
apoio aos alunos, mas também contribuir para a formação
dos docentes", explica a responsável pelo Gabinete,
Isabel Neto, doutorada em Bioquímica pela Universidade
de Lisboa.
Para o primeiro ano da licenciatura, 2001/2002, serão
apenas admitidos 60 alunos dado o funcionamento estar para já
limitado a instalações provisórias na Antiga
Fábrica do Moço (Garagens Peugeut Talbot), nas
traseiras do Pólo I da UBI. Aí funcionam, nesta
primeira fase, os laboratórios, salas tutoriais, salas
de microscopia e algumas salas de aula. O edifício da
6ª Fase dará apoio a estas instalações,
albergando a parte administrativa da Faculdade, a biblioteca,
gabinetes de docentes, secretaria e arquivo. Em Outubro de 2003
está prevista a abertura do Pólo III da Universidade
junto ao Hospital Cova da Beira. Os projectos para a construção
da Faculdade estão a ser elaborados por uma equipa de
arquitectos candidatos pré-seleccionados, ao que se segue
uma apresentação dos projectos prevista para Janeiro
de 2001.
"Estão a iniciar-se as obras no edifício da
Antiga Fábrica do Moço, e estarão prontas
em Outubro de 2001", garantiu Teixeira da Costa, docente
da UBI, doutorado em Genética e Bilogia Molecular pela
Universidade de Chernopkins, nos Estados Unidos da América.
Mestrados em Imunologia Clínica
em 2001
A UBI prepara-se para abrir já
entre Março ou Abril de 2001 o mestrado em Imunologia
Clínica. O primeiro mestrado na área a nível
nacional. O mestrado em Oncologia Médica será o
próximo, ainda sem data marcada para o arranque. As pós-graduações
são defendidas pela Universidade como forma de "valorizar
cienticamente os profissionais da Saúde e estímulo
para uma atitude científica crítica", defendeu
o doutorado em Imunologia Clínica, Luís Taborda
Barata.
Outro grande objectivo é a aproximação do
aluno ao doente.
A articulação institucional com a unidades de Saúde
dos distritos de Castelo Branco e Guarda está, desde o
dia 19 de Setembro, oficializada pela Portaria de articulação
que se encontra em fase de publicação. Este protocolo
criará estreitas relações entre a Faculdade
de Medicina e os Hospitais e Centros de Saúde da Região.
"O entrosamento entre a Faculdade de Ciências da Saúde
e o sistema de Saúde é um dos factores mais importantes
na questão do ensino e do desenvolvimento da investigação,
uma vez que este modelo assenta no aluno e na sua capacidade
de interagir no meio clínico onde está inserido",
referiu Miguel Castelo Branco, licenciado em Medicina e aluno
de doutoramento da UBI. |