I Encontro de Órgãos
de Comunicação Social da Beira Interior
O quarto poder em análise
POR RAQUEL FRAGATA
Os I Encontros de Órgãos
de Comunicação Social da Beira Interior, iniciativa
do Departamento de Comunicação e Artes da UBI,
decorreram este fim de semana na cidade da Covilhã. Com
a representação de quase todos os órgãos
de comunicação social da região, entre rádios,
televisões e jornais, traçaram-se cenários
presentes e estratégias para o futuro.
Importante presença no Encontro foi a do secretário
de Estado para a Comunicação Social, Arons de Carvalho,
que, apesar de o programa não prever, fez questão
de participar na Mesa Redonda que decorreu durante a tarde de
São Martinho.
A Sala Multi-Meios do Grupo
Instrução e Recreio do Rodrigo recebeu, sábado,
dia 11 de Novembro, vários profissionais do jornalismo
para debater algumas questões associadas ao exercício
da profissão.
Temas como o papel dos media na defesa da identidade regional,
a formação dos jornalistas e o futuro da comunicação
social na Beira Interior foram debatidos na presença de
quase duas centenas de assistentes. As comunicações
foram feitas por figuras da região ligadas à Comunicação
Social.
Formação académica
ou de redacção
"Para quem preferir a liberdade
à notoriedade ou ao dinheiro, o jornalismo local pode
ser a melhor opção." Esta é a mensagem
deixada aos alunos e profissionais do jornalismo pelo director
do curso de Ciências da Comunicação da UBI,
José Manuel Santos. Questionar a formação
dos jornalistas e a preparação dada pelas universidades
e politécnicos foi também um tema proposto pelo
segundo painel.
A preparação académica e a experiência
profissional são dois imperativos que se apresentam como
necessárias ao exercício do jornalismo. Como complementar
as lacunas de uma e outra foi o problema levantado para discussão.
João Canavilhas, director do Centro de Recrusos de Ensino
e Aprendizagem (CREA) da UBI e licenciado em Comunicação
Social, foi um dos intervenientes do painel. "Na classe
não há a consciência da importância
e da necessidade da formação. Não basta
em termos teóricos fazer jornalismo para se ser jornalista.
Para isso existem o Cenjor e as universidades, para dar cursos
de formação a jornalistas sem formação
nos órgãos de comunicação social",
defende.
Paulo Pinheiro, da Rádio Cova da Beira, lamenta a não
solicitação destes cursos pelas entidades empregadoras
da região. "O ensino é um espaço de
reflexão, aberto para acções de formação
dirigidas a jornalistas e alunos." Paulo Pinheiro defende
um complementaridade entre as duas experiências. "A
formação deve ser contínua. Aprende-se dentro
das universidades e politécnicos, mas isso não
chega."
Para António Fidalgo, a boa preparação cultural,
científica e tecnológica é uma função
das universidades. "O futuro dos profissionais de comunicação
está numa sólida formação na cultura
e no pensamento", defende o professor de Ciências
da Comunicação da UBI.
Quarto Poder
Num ponto todos estiveram de
acordo: é importante unir esforços em defesa da
região. Os Encontros serviram esse propósito ao
juntar cidades e "bairros" em volta do mesmo interesse.
Por várias vezes foi sublinhada a necessidade de aproximação
de instituições de ensino na preparação
da classe.
As relações do jornalista com o poder político
continuam a ser uma das principais preocupações
dos profissionais e do público. Diversas perspectivas
foram abordadas sobre a difícil ligação
entre "poderes".
"A Comunicação Social é uma estrutura
empresarial, onde são omitidas polémicas com medo
das pressões", factores que na opinião de
João Morgado não contribuem para o sentido crítico
das populações. "Existem cada vez mais cabeças
para fazer vénias, e menos para pensar por si", critica
o licenciado em Comunicação Social pela UBI e empresário
na área.
Lima Garcia, do Instituto Politécnico da Guarda, afirma
mesmo que, mais do que com o poder económico ou corporativo,
o jornalista debate-se com o problema da ligação
ao poder político. Outra face da questão é
a discussão de poderes. João Ruivo, professor do
Instituto Politécnico de Castelo Branco e director do
suplemento do semanário albicastrense A Reconquista, Ensino
Magazine, interpreta essa relação como uma luta
pelo poder. "O palco regional é muito curto para
ambas as forças. Ou será a emergência de
uma nova classe política? Um perfil emergente, não
estudado, dos jornalistas?", interroga.
Pinto muito crítico
O presidente da Câmara
Municipal da Covilhã esteve presente na sessão
de abertura dos Encontros. Um discurso inflamado e crítico
face ao desempenho de alguns órgãos de Comunicação
Social da região. "Julgo que num País onde
está limitada a opinião, é raro encontar
uma visão de largo espectro de todos os partidos políticos",
afirmou. Carlos Pinto manifestou desagrado face a "uma visão
majestática ou fragilizada em relação a
algumas instituições" referindo-se à
necessidade de independência do jornalista face ao poder
económico e político.
O autarca referiu que a credibilidade deve ser afirmada sob pena
do público incorrer numa leitura desconfiada. "Sem
haver uma clarificação dos estatutos da comunicação
social não haverá informação descondicionada",
afirmou o edil covilhanense.
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