Centro de alcoólicos
recuperados da Cova da Beira na Covilhã
Bebida maldita
POR ANABELA MACHADO
Desde novembro do ano passado
que o centro de alcoólicos recuperados da Covilhã
tratou 54 doentes. Esta associação constituída
por doentes alcoólicos recuperados, pretende alertar com
o seu testemunho para todos para os perigos que o álcool
pode trazer á vida de cada um.
José Manuel Amarelo Correia,
45 anos, comerciante, é abstinente alcoólico há
16 meses. Foi alertado para a doença pelo seu médico
de família e apesar de não se considerar alcoólico
decidiu procurar ajuda. "Depois de consultar alguns médicos
descobri o Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda,
presidido pelo Carlos Alberto Brito - abstinente há 20
anos - e consegui um internamento em Coimbra", confessa.
O facto de estar muito motivado e de ter tomado por si próprio
a iniciativa de tratamento já foi meio caminho andado
para a recuperação. Ao passar pelo problema Manuel
Amarelo viu que era preciso um centro destes na Covilhã.
E tudo fez, e tem feito, para que o projecto avance. "Esta
associação tem alguns problemas, mas o pior é
a falta de uma carrinha para levar os doentes a Coimbra. Até
agora tenho ido em carros particulares, mas fica muito caro",
afirma preocupado.
Esta associação pretende ajudar os alcoólicos
e as suas famílias e tem por lema: se nós conseguimos
tu também consegues. A família tem um papel fundamental
em todo o processo de tratamento. É a família e
também os amigos que dão os primeiros sinais de
alerta. "Informam a nossa associação do que
se passa e nós abordamos o doente e tentámos motiva-lo
para o tratamento. Mas este é um processo muito lento
e por vezes até somos mal recebidos", diz Manuel
Amarelo um pouco entristecido.
Estou motivado. E agora?
Sempre que o doente aceita a
ajuda da associação esta acompanha-o ao Centro
de Saúde da Covilhã para receber tratamento médico.
Os doentes chegam ás consultas do Centro de Saúde,
todas as quartas feiras, vindos dos mais diversos sítios
e sempre acompanhados por alguém. "Quando aqui chega
é feita uma primeira entrevista ao doente. Nesta entrevista
vemos a informação clinica do doente e a partir
daí avalia-se o seu estado, motivação e
que tipo de terapia poderá ser feita", explica a
Dra. Maria Eugénia Calvário, membro do conselho
técnico da associação. A terapia pode ser
feita de duas formas: ou por desintoxicação em
ambulatório, ou por internamento (no hospital da região,
no departamento de psiquiatria, ou no centro regional de alcoologia
de Coimbra).
O internamento requer três semanas para o tratamento ser
feito. Depois disso o doente é acompanhado nas consultas
em grupo ou individuais, para os casos mais específicos.
Se se tratar não beba
Quando acabam o tratamento dão
conta do estrago que fizeram na sua vida. "O doente que
nos procura já está lá no fundo. Quando
recupera precisa de ajuda para recomeçar. Nós tentamos
arranjar-lhe fundos de subsistência, nomeadamente um emprego",
afirma Manuel Amarelo, presidente da associação.
O emprego é meio caminho andado para o doente não
ter uma recaída. Mas "empregos há que revelam
alguns riscos para os doentes recuperados, pois há um
elevado consumo de álcool", clarifica a Dra. Maria
Eugénia.
O alcoolismo não é um tabu, mas uma doença
que pode ser tratada. Esta associação, considerada
missionária do alcoolismo, existe para ajudar os mais
desfavorecidos, aqueles que têm poucas possibilidades e
não têm conhecimentos. Não tem tendências
políticas, nem credo religioso. Está aberta a todos,
desde que seja uma vida que necessite de ajuda para se salvar.
Use mas não abuse
Uma associação
que não condena o uso, mas o abuso do álcool. Vê
na prevenção a melhor forma de combater a doença.
Assim, promove, juntamente com o Hospital e Centro de Saúde,
acções de formação á comunidade
em geral e ás escolas em particular. Pois é "nas
escolas que se formam os homens do amanhã", diz a
Dra. Maria Eugénia.
Apesar da doença afectar mais os homens que as mulheres
é preciso tratá-la enquanto é tempo. O alcoolismo
pode trazer consequências muito graves ao organismo, como
sejam gastrites e cirroses hepáticas. As bebidas alcoólicas
são também as responsáveis por grande número
de acidentes de trabalho e de viação. Por isso
é que "vale mais prevenir que morrer". |