1. Algures, em
Coimbra, terra mãe da tradição académica
juntara-se anti e pró-praxes para discutir o significado
das ditas. Trata-se de um assunto actual e, por isso, uma inciativa
destas vale a pena, tem significado e se calhar merecia ser reproduzida
noutras academias. Senão vejam-se alguns motivos: em primeiro
lugar, o fenómeno em causa já fez vítimas.
Se algumas dessas vítimas ficaram feridas fisicamente
outras ficaram, pior um pouco, gravemente lesadas na sua auto
estima, apesar de se não terem queixado. Em segundo lugar,
mesmo que se defenda o valor integrador da praxe, ter-se-á
que admitir que a tradição pode ser reformulada,
chamada ao bom senso, trabalhada e pensada de modo a adaptar-se
às realidades de hoje. Finalmente, sente-se, pela primeira
vez, uma verdadeira apetência da academia para se debruçar
sobre este tema. Os movimentos anti-praxe tomam posição,
escrevem-se artigos de opinião a favor e contra, os episódios
mais polémicos geram controvérsia. Pela priomeira
vez, depois de uma desão esfuziante que passava pela adopção
semi-acrítica dos rituais do costume, multiplicam-se as
vozes que dizem que são contra ou, pura e simplesmente,
indicam a necessidade de parar para pensar.
Na semana em que a Praxe surge com mais vigor em toda a sua pujança
(eventualmente, aqui e ali, em toda a sua boçalidade),
seria interessante que a Academia se predispusesse a colocar
este tema na Agenda. Promovendo um debate, aproveitando os instrumentos
de reflexão que existem no seio da própria Academia.
2. De repente
faz-se silêncio no meio da tagarelice; ouve-se um violocelo
que parece andar à procura de alguma coisa que não
nos pertence: Deus, a transcendência humana, ou apenas
o engano do homem, a crença solitária e recorrente
numa parte de nós que está face a face com a morte
e, por isso, mais do que qualquer outra, descobre o valor da
vida? É uma fuga de Bach executada por Casals. No universo
Bigbradológico da Palermice, é um outro lugar.
Não existe. É isto que alguns chamam de elitismo.
O audaz Vasco Pulido Valente entende que o tele-lixo é
o preço a pagar pela Democracia. A exibição
da vulgaridade, da pequenez é consequência necessária
da chegada ao espaço público de novas camadas sociais.
Se é permissível a escolha por parte dos que recentemente
ascenderam a escala social, como silenciar os seus gostos?
Há qualquer coisa de profundamente totalitário
neste raciocínio: se lhes derem a escolher não
podem senão escolher a vulgaridade. Não é
possível uma alternativa: atirem-nos com os seus ídolos
rasca e os seus futebóis. Nesta lógica, quem pensa
está encostado à parede: é um intelectual
elitista.
Acredito que há outras escolhas. O triunfo das novas identidades
sociais podia não se fazer necessariamente pela glorificação
da pirosada. Até porque este pseudo-triunfo da arrogância
populista, das bailarinas atrevidas de saia cor-de-rosa, este
país de vilarinhos e de kik-boxers e irmãzãos
continua, isso sim, a reproduzir dominações e novas
hierarquias disfarçadas de mobilidade.
A solução passa pelo serviço público-
perguntam os liberais, cépticos? Claro que não,
penso eu. Ou pelo menos não da forma como (não)tem
sido feito. O serviço público entendido como padrão
de gosto, acoutado numa posição defensiva onde
cabem as sensibilidades minoritárias deve ser preservado
mas não é eficaz no que respeita à capacidade
de dar a volta à situação. Vencer a literacia,
o analfabetismo, dotar o país de infraestruturas é
a única estratégia possível. É no
médio prazo que se descobrirão soluções
diferentes, não necessariamente assentes num iluminismo
elitista e pedante mas numa política que em Portugal nunca
foi cumprida de forma integral: a democratização
da cultura. Mais teatros, mais escolas de música, mais
cine clubes. A diferença entre este país e os outros
que consomem o tele lixo é que o nosso é mais vulnerável,
tem mais gente que não sabe ler, tem maiores indices de
literacia e menos possibilidades de escolha.
3. A definição
da cultura acomo uma aposta estratégica que as autarquias
deveriam eleger como sua, não significa a defesa de uma
visão elitista e letrada da política e, muito menos,
da política de cultura. Se isto fosse facilmente compreensível
não se admitira, por exemplo, a proliferação
indiscriminada de mamarrachos em zonas novas que se ofereciam
como uma alternativa à desgraçada canção
da Reboleira. Se isto fosse mesmo óbvio, não se
admitiriam a realização de atentados patrimoniais
na zona antiga da cidade, designadamente junto à antiga
Judiaria. Se esta evidência fosse tão auto-suficente
como se diz, não haveria jardins no centro da Covilhã
impróprios para as crianças, jardins apodrecidos
a desfazerem-se em noites de xutos e de amores de taxímetro.Pelo
contrário, planear-se-iam, formas de recuperação
da zona antiga que incluissem a realização de actividades
de animação. Dinamizar-se-iam formas de arte pública
que constituissem um espantalho para as faunas marginais que
assntaram arraiais no jardim público. Far-se-.ia de todos
os locais da cidade que oferecem espaço para sua fruição
pelos cidadãos um potencial pólo de animação
cultural.
O Pelouro da Cultura é, desde há muitas décadas,
, independentemente dos vereadores que ocupam a cadeira do gabinete,
um posto público de distribuição de subsídios
e uma gabinete de promoção de eventos. Ora isto,
deveria ser uma infíma parte da sua razão de ser.
Qualquer gabinete desempenharia essa actividade e ficaria mais
barato do que o ordenador de um vereador.
4. Desde que
a legislação consagrou a possibilidade de um Adjunto
e um Secretário da confiança política e
pessoal do edil camarário que se começaram a desdobrar
avenças e ordenados para assegurar a contratação
de mais pessoal. Não se contratam animadores culturais.
Não se abre concurso para animadores desportivos. Porém,
a nomenklatura de avenças multiplica-se em promotores
de imagens, secretários, spin doctors, assessores para
a imagem da frente, asessores para imagem do lado e até
para o turismo.
A fim de dar uma superior rentabilidade a esta possibilidade,
surge, por vezes,o expediente de contratar acessores de entre
o pessoal político do partido da oposição
a fim de assegurar que no interior deste prossiga alguma arruaça
proveniente de desavenças armadilhadas nos laboratórios
do poder. Assim se dá uso ao erário público,
transformado em pagante das pequenas guerrilhas do poleiro.
5. O queijo de
Campelo transtorna com o seu perfume as avenidas do Orçamento.
Numa palavra, cheira a esturro. |