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Opinião      


 


José Geraldes

A lição dos Paralímpicos

Os atletas portugueses dos Jogos Paralímpicos de Sidney alcançaram um sucesso invejável. Seis medalhas de ouro, cinco de prata e quatro de bronze coroaram os atletas deficientes.
Já a participação nas Olimpíadas, em Setembro, trouxe fracos resultados. E nem se notou brilho nem glória nos portugueses que se deslocaram a Sidney, com raras excepções.
Talvez a motivação não tivesse o calor e a audácia da chama Olímpica. Com efeito, António Guterres também não lhes havia pedido que ganhassem. O importante era estar presente. E participar.
Os atletas dos Paralímpicos, esses, foram a Sidney com a vontade e a determinação de quem está habituado diariamente a lutar contra a deficiência que os atingiu. Carlos Ferreira, cego total da ACAPO, trouxe a medalha de Ouro da maratona.
Estes atletas, não obstante as diminuições físicas que os atingiram, mostraram que é possível brilhar em provas internacionais e competir com os melhores do mundo. E isso sem as ajudas de toda a espécie concedidas aos atletas das Olimpíadas.
Qual o segredo destas vitórias? A vontade e a mística explicam a determinação destes atletas. E aqui também se mostra a capacidade humana de ir até à exaustão quando se persegue, com verdade, um objectivo.
Ruy Belo, poeta timorense, exprime em verso a beleza deste ideal: "Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer / Só sei que tinha o poder duma criança / Entre as coisas e mim havia vizinhança / E tudo era possível, era só querer".
"Era só querer". A vontade pode fazer milagres. Desde que a mente a acompanhe no caminho. E o pessimismo seja expulso nem que seja à força de chicote.
Mas a vontade sem mística é como o amor sem chama. A mística desempenha o papel de um motor num automóvel. E transpõe obstáculos. Vence resistências. Indica as opções a tomar. Foi assim com os heróis e os santos. É assim com os atletas. Os Paralímpicos o comprovam.
Organizar lá para 2012 ou 2016 os Jogos Olímpicos em Portugal? O governante que lançou a ideia deve andar nas nuvens. Certamente a frase saiu-lhe devido à tristeza dos maus resultados obtidos. Só assim é possível explicá-la. Ou então como ganhámos a organização do Europeu, também a esta distância de tempo, nos cairiam nos braços as Olimpíadas.
A vontade aqui não é determinante? Nem a mística? O cerne do problema prende-se com a estrutura sócio-económica do País. Segundo os dados recentes do Eurostat, Portugal só atingirá a média europeia daqui a 40 a 50 anos, nos níveis da educação, da economia, do desenvolvimento global. Há ainda, pois, muito caminho para andar.
E, ao ritmo a que progredimos, afigura-se impossível dispor de todos os equipamentos sociais e desportivos para evento de tamanha grandeza. Se naquilo que é essencial vamos a passo de tartaruga! Somos, de facto, um País de poetas.
É bom sonhar! E Sebastião da Gama diz-nos que "pelo sonho é que vamos". Mas nem tanto. Sejamos realistas e deixemo-nos de utopias poéticas.

* NC / Urbi et Orbi

 

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