A lição
dos Paralímpicos
Os atletas portugueses
dos Jogos Paralímpicos de Sidney alcançaram um
sucesso invejável. Seis medalhas de ouro, cinco de prata
e quatro de bronze coroaram os atletas deficientes.
Já a participação nas Olimpíadas,
em Setembro, trouxe fracos resultados. E nem se notou brilho
nem glória nos portugueses que se deslocaram a Sidney,
com raras excepções.
Talvez a motivação não tivesse o calor e
a audácia da chama Olímpica. Com efeito, António
Guterres também não lhes havia pedido que ganhassem.
O importante era estar presente. E participar.
Os atletas dos Paralímpicos, esses, foram a Sidney com
a vontade e a determinação de quem está
habituado diariamente a lutar contra a deficiência que
os atingiu. Carlos Ferreira, cego total da ACAPO, trouxe a medalha
de Ouro da maratona.
Estes atletas, não obstante as diminuições
físicas que os atingiram, mostraram que é possível
brilhar em provas internacionais e competir com os melhores do
mundo. E isso sem as ajudas de toda a espécie concedidas
aos atletas das Olimpíadas.
Qual o segredo destas vitórias? A vontade e a mística
explicam a determinação destes atletas. E aqui
também se mostra a capacidade humana de ir até
à exaustão quando se persegue, com verdade, um
objectivo.
Ruy Belo, poeta timorense, exprime em verso a beleza deste ideal:
"Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer
/ Só sei que tinha o poder duma criança / Entre
as coisas e mim havia vizinhança / E tudo era possível,
era só querer".
"Era só querer". A vontade pode fazer milagres.
Desde que a mente a acompanhe no caminho. E o pessimismo seja
expulso nem que seja à força de chicote.
Mas a vontade sem mística é como o amor sem chama.
A mística desempenha o papel de um motor num automóvel.
E transpõe obstáculos. Vence resistências.
Indica as opções a tomar. Foi assim com os heróis
e os santos. É assim com os atletas. Os Paralímpicos
o comprovam.
Organizar lá para 2012 ou 2016 os Jogos Olímpicos
em Portugal? O governante que lançou a ideia deve andar
nas nuvens. Certamente a frase saiu-lhe devido à tristeza
dos maus resultados obtidos. Só assim é possível
explicá-la. Ou então como ganhámos a organização
do Europeu, também a esta distância de tempo, nos
cairiam nos braços as Olimpíadas.
A vontade aqui não é determinante? Nem a mística?
O cerne do problema prende-se com a estrutura sócio-económica
do País. Segundo os dados recentes do Eurostat, Portugal
só atingirá a média europeia daqui a 40
a 50 anos, nos níveis da educação, da economia,
do desenvolvimento global. Há ainda, pois, muito caminho
para andar.
E, ao ritmo a que progredimos, afigura-se impossível dispor
de todos os equipamentos sociais e desportivos para evento de
tamanha grandeza. Se naquilo que é essencial vamos a passo
de tartaruga! Somos, de facto, um País de poetas.
É bom sonhar! E Sebastião da Gama diz-nos que "pelo
sonho é que vamos". Mas nem tanto. Sejamos realistas
e deixemo-nos de utopias poéticas.
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NC / Urbi et Orbi |