PCP fala de urbanismo
"Polis não
faz milagres"
POR RAQUEL FRAGATA
A Comissão Política Concelhia do
Partido Comunista Português da Covilhã convocou
uma conferência de imprensa para mostrar a sua discordância
em relação aos moldes como está ser conduzido
o Programa Polis. Falam de má gestão urbanística
por parte da edilidade e consideram a iniciativa governamental
uma "falsa solução milagrosa".
Para falar do Polis e do urbanismo
na cidade da Covilhã o Partido Comunista Português
(PCP) juntou a uma mesa os arquitectos José Neves Dias
e Filipe Dinis. O objectivo da conferência de imprensa
era levantar algumas questões sobre o Polis.
Os dois membros do PCP discordam fundamentalmente do modelo de
gestão que o Governo Socialista escolheu e não
aceitam o regime de excepção criado, que, dizem,
vem retirar poderes às autarquias.
São competências como a elaboração
dos Planos Estratégicos, Planos de Urbanização
e Planos de Pormenor, de licenciamento de obras, de declaração
da utilidade pública para as expropriações
e de constituir servidões que passam para as empresas
a criar para a implementação do projecto. "Competências
que a actual lei define como de exclusiva responsabilidade das
autarquias locais", sublinha José Neves Dias, professor
da UBI.
Considera por isso o Polis "parte de uma estratégia
eleitoralista, centralizado e governamentalizado, de predilecção
partidária". E refere: "Dos 22 municípios
abrangidos pela parte mais importante do investimento do Programa
Polis, 13 são dirigidos pelo PS, 6 dirigidos pelo PSD
e 3 pela CDU".
O orçamento para o Polis da Covilhã é de
3 milhões e 800 mil contos, verba que está a ser
negociada entre a autarquia e o Governo para os sete milhões
de contos. José Neves Dias não acredita no modelo
de gestão deste investimento baseado na criação
de Sociedades Anónimas com capitais maioritários
do Estado, vendo-as apenas como um reforço da posição
centralizadora do Governo.
Estratégia eleitoralista
Os comunistas acusam o Governo
de se estar a apropriar de planos de requalificação
ambiental elaborados pelos vários municípios, concentrando
o poder decisório e as verbas de Programas Operacionais
Regionais no Polis.
Outra crítica feita pelos comunistas é a incerteza
face à possível especulação imobiliária
que se possa criar à volta destas áreas e a falta
de mecanismos decisivos que façam cumprir as regras de
urbanismo. E temem que o Polis seja "a falsa solução
milagrosa" sem a implementação de medidas
disciplinadoras para o urbanismo.
Reconhecem também utilidade em algumas intervenções
mas não acreditam que venha a resolver o problema das
cidades. "Uma política das cidades seria se o Governo
corrigisse as políticas que levam a isto, as razões
de fundo, económicas, sociais e de desenvolvimento".
Na opinião do vereador comunista, Vítor Reis Silva,
a zona de intervenção escolhida na Covilhã
não é a mais significativa. E defende que a área
a requalificar deveria ser alargada à zona histórica
onde "interessa de facto requalificar e investir para que
mais tarde não restem apenas ruínas".
Para o arquitecto Filipe Dinis, membro do Grupo de Trabalho de
Ordenamento do Território, do Urbanismo e da Habitação
junto da Comissão Nacional de Autarquias do PCP, vários
erros de gestão urbanística têm sido cometidos
pela autarquia covilhanense de maioria PSD. "A degradação
do centro histórico não pára. Os problemas
avolumam-se e a gestão vem sendo perfeitamente casuística,
com consequências caóticas." "A edilidade
não tem estado a salvaguardar os interesses dos covilhanenses",
acrescenta
Falta de informação
O vereador comunista queixa-se
de falta de informação e discussão pública
do assunto e pediu já por escrito, na qualidade de vereador
da oposição, esclarecimentos ao presidente da Câmara
da Covilhã, Carlos Pinto. A falta de resposta por parte
do edil é considerada escandalosa. "Num programa
que visa, e que vai de facto influenciar a actividade diária
das pessoas, criticamos a impossibilidade de população
e eleitos participarem nas diferentes fases de negociação
e no estudo dos objectivos a implementar", afirma.
Filipe Dinis não tem dúvidas quanto à responsabilidade
do presidente da Câmara "no caos urbanístico"
que se constata na Covilhã. E acusa-o de desleixo na gestão
urbanística que considera "tem vindo paulatina e
insistentemente a destruir a morfologia da cidade que a caracterizava
como um presépio na encosta da serra".
Segundo o arquitecto "o Programa Polis não vai resolver
este problema na Covilhã, nem vai resolver o problema
da poluição das ribeiras" pois não
prevê a construção de infra-estruturas que
permitam desviar as matérias poluidoras que são
lançadas nas Ribeiras da Goldra e da Carpinteira.
Por último deixou algumas críticas à obra
em andamento na Praça do Município, referindo-a
como "bombástica" e "polémica".
"Será esta uma solução milagrosa, ou
mais uma vez estamos a desviar as atenções e escamotear
os problemas?", perguntou.
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