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Opinião      


 


Paulo Serra

Os filhos da Mãe

Se está a ler este texto, pode concluir desde já que sucumbiu mais uma vez a uma das estratégias fundamentais que a publicidade actual utiliza para chamar a atenção dos potenciais destinatários: o choque (pela palavra, pela imagem, pelo som, por tudo isto simultaneamente). A "moral" (publicitária) é, obviamente, a de que todas as estratégias são "boas" se são boas para conseguirem tal objectivo, sendo tanto "melhores" quanto melhor o consigam.
Mas, de facto, não era sobre a publicidade em geral que queríamos chamar a sua atenção, mas sim sobre uma campanha publicitária concreta - a "campanha da Mãe" (reside aqui a verdadeira razão da escolha do nosso título). O "choque" desta campanha tem a sua origem na seguinte ideia: se é possível vender políticos como se fossem sabonetes, então também é possível vender sabonetes (os bens de consumo) como se fossem políticos. A política e o consumo são assim colocadas dentro da mesma lógica, que é simultaneamente a lógica da aparência (o que parece bom é bom), do descartável (consumir e deitar fora) e do maquiavélico (os fins justificam os meios).
Mas o mais chocante desta campanha é vermos que o seu "choque" traduz aquela que é, em grande medida, a realidade do nosso tempo. Basta percorrermos as páginas dos jornais e revistas, as imagens dos noticiários televisivos: a simpatia artificial esconde cada vez mais a ausência das ideias, a palavra fácil a inexistência dos projectos, a encenação mediática a falta das medidas concretas. A política mostra-se cada vez mais como política-espectáculo, como política dos políticos-sabonetes. A questão que se coloca a cada um de nós é, então, a de saber se a esta transformação da política em publicidade e dos políticos em sabonetes só poderemos responder como os "filhos da Mãe" da campanha publicitária.

 

 

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