António
Fidalgo |
Outonos políticos
As últimas semanas foram férteis em acontecimentos e respectivos sinais de que as coisas na
política local covilhanense estão a mudar. Primeiro foi a demissão de Francisco Pimentel da
Assembleia Municipal e a entrevista ao Jornal do Fundão de 6 de Outubro. Pimentel apontava
a falta de uma estratégia do executivo camarário para o futuro da Covilhã. Depois foi a
demissão "imediata e intempestiva" de João Morgado, Adjunto do Presidente da Câmara Carlos
Pinto, conforme noticiava o NC em 13 de Outubro. A razão apontada foi a de "falta de
condições políticas e humanas para desempenhar com dignidade as suas funções. Em artigo
publicado no jornal "O Interior" de 19 de Outubro e intitulado "Orgulhosamente", João
Morgado comungava das preocupações de Pimentel sobre o isolamento político da Covilhã.
Notícia também é a demissão de Miguel Nascimento como líder da bancada socialista na
Assembleia Municipal da Covilhã, de que dão conta os semanários regionais de 20 de Outubro.
Nascimento "fartou-se de dirigir um grupo parlamentar que não funcionava como grupo".
Pelo perfil dos demissionários, nomeadamente pela veia política que os enforma e pelas
notórias capacidades de qualquer um, estas demissões não podem ser encaradas como
desistências. Penso que estamos a assistir a um rearranjo das posições de combate político,
internas e externas aos respectivos partidos. A época do ano é, aliás, propícia a paragens,
a abandonos, que acabam por se revelar simples interrupções. Estamos no Outono, vem aí o
Inverno, e nada como uma estação fria, de chuvas e gelo para um recolhimento a quebrar na
Primavera.
Na política, como em outros âmbitos, há momentos de paragem, melhor, de preparação. O novo
não se segue pacificamente ao velho. Por vezes é necessário deixar fenecê-lo por completo.
A sabedoria aqui é saber esperar o seu tempo, aguardar a sua vez. Nem a vida, nem a
política, estão para corridinhas e salamaleques de quem apenas vê e cavalga o momento e o
poder presentes.
Se havia necessidade de provar que a política na Covilhã está a terminar um ciclo, "a fase
das infraestruturas" no dizer de Pimentel, a prova aí está nas demissões. Foi no auge das
grandes obras emblemáticas de Cavaco Silva, Ponte Vasco da Gama e Expo, que começou o seu
Outono político. Na Covilhã passa-se algo de idêntico. A Covilhã é uma cidade diferente de
há cinco anos. Jovens licenciados pela UBI ocupam paulatinamente lugares de
responsabilidade económica, social e política na região. Queiram as velhas guardas ou não,
o tempo e a política correm a favor das novas gerações. Os outonos políticos de uns são os
tempos de sementeira e de esperança de outros, dos novos.
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