António
Fidalgo |
Para uma Covilhã
universitária
Orgulha-se a Covilhã de
ser uma cidade universitária. E, de facto, é a
única cidade em Portugal que, não sendo capital
de distrito, tem uma universidade pública. A nova Faculdade
de Medicina vem ainda reforçar mais esse orgulho. Mérito
ou sorte? Justifica-se ou não esse orgulho?
A pergunta é obviamente por demais simplista, mas tem
a vantagem de agudizar a questão que me proponho tratar.
Que a UBI foi uma bênção para
a Covilhã
em termos socio-económicos, isso é incontestável.
Quando na década de 80 a indústria têxtil
tradicional entrou em profunda crise, foi o IUBI primeiro e depois
(1986) a UBI que salvaram economicamente a cidade. Mesmo a reconversão
de edifícios fabris em instalações académicas
também é caso único no país, e ajudou
imenso à requalificação urbana da cidade.
A UBI significou a entrada de milhões de contos de investimento
público na Covilhã e deu á cidade uma nova
e melhor esperança de futuro. Agora a pergunta inversa:
E o que é que a Covilhã tem feito pela Universidade?
Agudizando a questão: Tivesse a universidade pública
do interior sido criada em Viseu, Castelo Branco ou Guarda estaria
melhor ou pior do que está hoje a UBI? Não enfrentaria
porventura menos dificuldades do que a UBI de facto enfrenta,
nomeadamente nas acessibilidades, na ligação mais
rápida aos centros universitários tradicionais
como Lisboa e Coimbra, no maior peso político junto do
governo central, numa melhor relação com as respectivas
autarquias? Não tinham essas cidades vizinhas até
uma maior tradição académica que a Covilhã,
nomeadamente com a tradição dos seus bons liceus
e da existência de seminários diocesanos maiores,
casos da Guarda e Viseu?
Postas as coisas nestes termos, pode-se perguntar não
o que a UBI tem a dar à Covilhã, mas o que é
que a Covilhã tem a dar à UBI. Não basta
uma universidade para fazer universitária uma cidade.
E a Covilhã, seguramente, ainda
não é universitária.
É normal, faltam-lhe ainda os anos, muitos anos. Mas é
justamente neste não ser ainda que a Covilhã pode
fazer muito pela universidade que alberga. Desde logo pode fazê-lo
pela ajuda económica. Se as cidades vendem metros quadrados
a preços simbólicos em parques industriais, quanto
mais não devem elas ajudar as instituições
de ensino e de ciência, certamente o melhor investimento
na sociedade actual. Por outro lado poderia ajudar a UBI com
uma melhor oferta cultural. Olhe-se para o que se faz em Castelo
Branco em matérias de apoios imobiliários por parte
da autarquia, olhe-se para a oferta cultural da Guarda e ver-se-á
que a Covilhã tem de se esforçar muito mais.
A UBI é uma universidade nacional e tem necessariamente
de visar o todo nacional tanto na procura dos seus estudantes
como nos serviços que presta, mas tendo uma implantação
concreta numa determinada região precisa do apoio social
e político de toda essa região. O que ela de certeza
não precisa é de guerras da Covilhã com
os municípios à sua beira.
Ser-se universitário não é um destino, é
uma opção. É fundamental que a Covilhã
se decida a tornar-se universitária.
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