|
|
Tenho diante dos meus olhos o
livro de Sebastião Salgado, TERRA.
Na capa, uma criança de rosto lindíssimo olha-me
como se me perguntasse a razão da sua vida ser tão
dura e triste. Faz com que me sinta quase culpada, talvez por
não fazer tudo quanto devo para, daqui de tão
longe, ajudar de forma mais eficaz a divulgar a luta dos brasileiros
sem terra pelo direito a um pedaço de chão onde
possam trabalhar e viver com dignidade.
O livro de Sebastião Salgado, com introdução
de José Saramago e versos de Chico Buarque, é dedicado
ao Movimento
dos Sem Terra. Este movimento
tornou-se tristemente célebre no mundo inteiro, devido
ao massacre de uma manifestação de camponeses
por 155 soldados da polícia militarizada armados de espingardas
e metralhadoras. Os camponeses bloqueavam a estrada em acção
de protesto contra o atraso "da suposta reforma agrária
em curso no Brasil há 50 anos" de acordo com as
palavras de José Saramago na introdução.
As fotografias de Sebastião
Salgado têm
a força dos rostos dos homens e das mulheres por ele retratados.
Mas o que dói mais são as crianças. O rosto
do miúdo na fotografia da página 65 não
se apaga da nossa memória . É um grito surdo que
fica cá dentro.
Sim, eu sei, não é preciso ir ao Brasil. Aqui,
no nosso Portugal dos pequeninos também acontecem coisas
terríveis (ainda há dias Teresa Vilaverde nos mostrava
um pouco do que se passa nos reformatórios juvenis no
seu filme "Os Mutantes").
Lanço aqui um desafio. Em Portugal há bons fotógrafos.
Porque não fazem como Sebastião Salgado? Retratem
o Portugal que não vem no "Mundo ViP" e agridam
a nossa indiferença. por mariana morais
|