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Editorial        



 
António Fidalgo

Vôos de capoeira

A participação portuguesa nos jogos olímpicos foi decepcionante. Esperavam-se medalhas, de ouro e prata, e apenas vieram duas de bronze. Faltou brilho e garra aos nossos atletas. Mas também, verdade se diga, mais não fizeram do que representar a sociedade portuguesa de hoje, sem brilho nem garra.
O que marca o Portugal de começos de Outubro do ano 2000 é um estado de mediocridade, de aluno sofrível, que fica aliviado com o nove e meio que dá, mesmo rés vés, para passar. Vivemos em tempos de capoeira, onde os vôos são rasteiros e curtos.
Fácil é numa situação destas culpar o governo e só o governo. Mas é bom não nos enganarmos. O mal é muito, muito mais fundo que um governo fraco ou fora de prazo. O mal está numa mentalidade secular de falta de vontade de afirmação, de falta de exigência, sobretudo para connosco mesmos. O Portugal castiço e fraco de António Nobre volta ao de cima.
No entanto, tudo passa por uma questão de auto-exigência, de superarmos a triste sina que pende sobre nós, em processo de união europeia, que é de sermos os criados da Europa. Somos simpáticos, temos bom clima, paz social, condições óptimas para os reformados da Europa.
O centro da questão está no ensino. É aqui que o facilitismo tem sido maior e é aqui que ele é mais pernicioso. Os estudantes, do primário ao superior, têm de aprender a trabalhar a sério. Os cursos superiores em que se entram com notas negativas deveriam ser suprimidos. O nivelamento por baixo deveria acabar.
Seria bom que no começo do novo ano escolar, professores e alunos cultivassem atitudes de exigência. É que nada há de mais triste que lugares de excelência como são as instituições de ensino superior transformarem-se em capoeiras intelectuais.

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