Processo deve ser concluído
nos próximos meses
Apicultores reivindicam
certificação do mel da Malcata
POR RICARDO GUEDES PEREIRA*
A Feira do Mel de Penamacor
é uma montra do que os apicultores produzem de melhor.
O certame serviu para se unirem a favor da certificação
do néctar. A vila do Sabugal recebe a edição
do próximo ano.
Produzir mel é, sobretudo,
um acto de amor. Apoiado na sabedoria que lhe permite dia após
dia, desde há 20 anos, criar as melhores condições
para as abelhas produzirem o famoso néctar açucarado,
António Nabais confessa que nesta arte tudo é simples.
Sem segredos.
"É preciso gostar de viver com as abelhas, nem todas
as pessoas conseguem", acredita. Para aquele apicultor do
concelho de Penamacor, pouca coisa mudou desde que pela primeira
vez observou com mais atenção o processo de extracção,
levado a cabo pelas abelhas, do pólen das flores e a sua
posterior deposição nos alvéolos dos cortiços.
O apiário de António Nabais é constituído
por 30 colmeias que produzem, num ano razoável, quase
600 quilos de mel. O néctar que produz é de rosmaninho.
Planta que se encontra com bastante abundância no Parque
Natural da Serra da Malcata. A riqueza do local deve-se ao isolamento
e diversidade das flores silvestres que ali crescem: urzes e
rosmaninho, dos quais as abelhas fabricam méis de qualidade.
António Nabais trabalha quase sempre sozinho. Afirma que
se não fosse assim, não era possível dedicar-se
a esta actividade com a "mesma atenção".
Durante o último fim-de-semana, de 8 a 10, ele e outros
apicultores da região juntaram-se na Feira do Mel da Serra
da Malcata que se realizou na vila de Penamacor. Uma montra tradicional
que deu a conhecer, para além da actividade apícola,
outros produtos regionais e artesanato. A animação
cultural e a realização de umas jornadas de reflexão
sobre o mel também constaram do cartaz de actividades
promovidas pela organização do certame, liderada
pela Câmara Municipal de Penamacor.
Contra a "invasão"
espanhola
À semelhança de outros colegas agricultores, os
apicultores da região preparam-se para definir novas estratégias
de acção a fim de vencerem os desafios do futuro.
Uma tarefa que não se prevê nada fácil tendo
em conta a crescente "invasão do mel espanhol".
Outra questão que preocupa os profissionais do sector
é a necessidade de obter a certificação
de origem para o mel da Serra da Malcata. Mais um passo, acentuam,
para garantir a valorização do produto, depois
de ser conquistada a confiança dos consumidores. Por enquanto,
as dezenas de apicultores presentes no certame mostram-se tranquilos:
"O nosso mel está bem e recomenda-se".
Sobre esta matéria, o presidente da Associação
de Apicultores da Serra da Malcata, Francisco Horgan, afirma
que a obtenção da certificação vai
ser "um processo demorado". Os especialistas vão
ter de elaborar no terreno estudos de tipificação
da flora e de classificação do mel. Um processo
em que todos se mostram empenhados em concretizar, embora nem
sempre os produtores estejam bem informados sobre os benefícios
futuros.
Mas o que vai mudar com a certificação? "No
mel espero que nada. Pode é melhorar a vertente comercial.
Aí é possível adquirir alguma mais-valia",
sublinha Francisco Horgan. O presidente da Câmara Municipal
de Penamacor, José Luís Gonçalves, também
se mostra confiante em que a economia local vai conseguir retirar
importantes dividendos da certificação do néctar.
"Já há este produto regional nos hipermercados.
Faltam agora mais apoios e alguns apicultores de maior estrutura.
Estrutura que o associativismo pode fornecer", considera
o autarca beirão.
O papel da Associação de Apicultores da Serra da
Malcata, cuja área de influência se estende a uma
reserva natural de 21 mil hectares, passa neste momento por esclarecer
os seus associados sobre a legislação, publicada
em Março último, que veio regulamentar a actividade
apícola no nosso País. Por agora, os produtores
mostram-se descontentes com algumas normas impostas pelo Ministério
da Agricultura, nomeadamente as que dizem respeito ao encabeçamento
de colmeias e distância de apiários.
Francisco Horgan assegura que a anterior lei, que data de 1946,
era mais adequada ao permitir que as colmeias distassem 10 metros
de caminhos públicos ou construções, contra
os actuais 100. "Milhares de apicultores, sobretudo do Norte
do País, em zonas de minifúndio, têm as suas
colmeias, neste momento fora de lei", aquele responsável
alerta deste modo para o facto da actual legislação
ter de ser revista.
No conjunto, os produtores de mel fazem, todavia, um balanço
positivo do actual quadro regulador, uma vez que, dizem, está
a impor algumas limitações à "entrada
desenfreada de mel espanhol".
Queijo substitui mel em 2001
A Associação de Apicultores da Serra da Malcata
agrega quase 70 associados que produzem, em média, 80
toneladas de mel/ano. A grande maioria são pequenos produtores
que vendem o seu mel a particulares conforme as solicitações.
No concelho de Penamacor, também está sediada uma
empresa de maiores dimensões que desde há algum
tempo assumiu uma aposta forte na vertente comercial. A Serra
da Malcata como um espaço onde a natureza ainda se encontra
intacta e admirável é um excelente cartão
de visita e uma garantia de qualidade do produto que se quer
colocar no mercado nacional e internacional.
A próxima edição da Feira do Mel já
tem lugar marcado para o Sabugal. Respeitando um sistema de rotatividade
já estabelecido, a vila de Penamacor recebe, em 2001,
a Feira do Queijo.
*NC/ Urbi et Orbi |