A terra das
novas oportunidades
POR CATARINA MOURA
Fico espantada com a quantidade
de ex-colegas meus que estão a regressar ao Interior,
após terminarem os seus cursos. Espantada com a minha
própria vontade de ficar, pelo menos por mais uns tempos.
Sempre vi a Covilhã como uma cidade chata, de horizontes
restritos, que depois do fim das exibições do Cine
Clube nem sequer cinema de jeito pode oferecer, onde só
as pessoas e os vínculos com elas criados convidam a ficar.
Acho que continuo a vê-la assim, mas agora com possibilidades
de mudar.
O problema do Interior foi ter sido sempre pouco atraente comparado
com o Litoral. Era o parente pobre, a ovelha runhosa, o enteado
na divisão do bolo estatal. Talvez pela saturação
do "outro lado", nunca como nestes últimos dois
anos vi tanta gente do meu curso e de outros a fixar-se por aqui
logo após o término dos estudos. E nunca vi tantos
voltarem depois de uns tempos tentando a sua sorte na capital.
A verdade é que o desencanto e a falta de oportunidades
que se vivem no Litoral estão a beneficiar o Interior.
Se para que uma terra progrida são necessários
jovens e respectivo entusiasmo, ideias e vontade de investir,
então estão a reunir-se os ingredientes necessários.
Falta, claro, que sejam criadas condições para
que esse regresso não seja apenas temporário e
se transforme em vontade de ficar. O Interior pode, de facto,
ser a terra das novas oportunidades, mas também tem que
as merecer. E isso passa pela vontade de receber quem cá
quer ficar. |