Livros escolares pesam nos
orçamentos familiares
"Manuais deviam
ser gratuitos"
POR CATARINA MOURA
E MARIANA MORAIS
Ao
longo desta semana, e salvo algumas excepções,
as escolas portuguesas vão começar a abrir as portas
ao novo ano lectivo. Com 2000/2001 chegam para já as habituais
despesas de início de ano, que ao agregado familiar português
médio, composto por pai, mãe e dois filhos, rouba
cerca de 60 mil escudos destinados apenas aos livros escolares
obrigatórios. As famílias reclamam, os sindicatos
relembram antigas promessas do Governo e o Ministério
da Educação responde com uma data: 2003, a partir
da qual pretende que os manuais sejam gratuitos e mais duradouros.
"Tenho dois filhos. O mais
velho anda no 12º ano e o mais novo passou para o 8º.
Com este já gastei 30 mil escudos, só em livros.
Ganho 67 contos por mês e o ordenado do meu marido também
não é muito elevado. Esta altura é sempre
complicada", diz Conceição Garra, operária
têxtil e residente na Covilhã.
Como ela, também Luís Filipe Ramos, comerciante
e pai de duas gémeas a frequentar o 8º ano, faz um
balanço orçamental do início da época
escolar. "Ainda não sei bem ao certo", comenta,
"mas entre livros, material de apoio, fatos de trino e ténis,
100 contos é capaz de não chegar. Só para
livros estou a contar gastar 50 a 60 mil escudos".
Uma verba considerável, confirmada por Óscar Monteiro,
proprietário da Livraria D'Ávila. "Regra geral,
quem tem dois filhos a estudar e não tem subsídios
não gasta menos de 50 mil escudos em manuais escolares".
Longe vai o tempo em que uma família com vários
filhos em idade escolar conseguia que os livros passassem de
irmão para irmão. Actualmente, é raro o
ano em que os livros não mudam e o preço vem sendo
crescentemente inflaccionado, balançando negativamente
o orçamento familiar. Trinta mil escudos é, em
média, quanto uma família gasta só nos livros
obrigatórios para um estudante. A este número acrescem
os cadernos, as canetas, os lápis, as mochilas, o material
de desporto e desenho, entre outras exigências pontuais
das listas de cada disciplina.
Sindicatos relembram:
gratuitidade não é obrigatória
A gratuitidade dos manuais escolares
é uma luta antiga que pode estar a atingir o seu desfecho.
Dulce Pinheiro, dirigente do Sindicato dos Professores da Região
Centro (SPRC) recorda o VI Congresso da FENPROF, realizado em
1998. "Nesse congresso foi aprovada a exigência de
os manuais escolares serem gratuitos no ensino obrigatório,
isto é, até ao nono ano".
O não cumprimento desta exigência é causador
de graves problemas financeiros para muitos agregados familiares.
Desta opinião partilha não só o SPRC mas
também o Sindicato dos Professores da Zona Centro (SPZC),
liderado por Carlos Costa. De acordo com este dirigente, "os
manuais escolares não são gratuitos porque a Lei
de Bases do Sistema Educativo, aprovada em 1986, não o
determina com obrigatoriedade. Apenas diz que os alunos poderão
dispor gratuitamente do uso de livros e material escolar quando
necessário". Carlos Costa cita ainda o decreto-lei
35/90 de Janeiro, no qual é dito que "no que respeita
à cedência de livros e material escolar, as modalidades
de apoio são de aplicação restrita e destinam-se
em exclusivo aos alunos de mais baixos recursos sócio-económicos".
Data marcada: 2003
A preparar a reorganização
curricular anunciada para o ensino básico, o Ministério
da Educação pretende que os manuais sejam gratuitos
e mais duradouros a partir de 2003. Em contacto com a Associação
Portuguesa de Editores e Livreiros há cerca de um ano,
tendo em vista a gratuitidade dos manuais do primeiro ciclo do
ensino básico, o ministro da tutela, Guilherme d'Oliveira
Martins, declara ao jornal Público, na sua edição
de domingo, que esse "é um processo com alguma complexidade,
tendo em vista a necessidade que temos de evitar que haja quaisquer
prejuízos, designadamente na actividade comercial ou industrial".
O ministro adianta ainda que "em 2000/2001 iremos apresentar
já as soluções concretas que serão
discutidas com estes mesmos parceiros para podermos cumprir o
calendário que nos propusemos".
Para já, 2003 é a data marcada. É necessário
tempo não só para encontrar uma solução
satisfatória e concensual tanto para editores e livreiros
como para pais e sindicatos, como para a produção
de materiais, tendo em atenção o novo requisito
de durabilidade.
|