O
REINO
de Lars
Von Trier
por pedro homero
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Lars von Trier
é um génio cinematográfico. A sua percepção
do espaço, físico e psicológico, é
soberba. A sua relação (directa) com a câmara
é orgânica e transporta tudo o que o realizador
quer para a tela. A montagem deixa a quilómetros-luz a
maior parte dos filmes e vídeo-clips a 300 à hora
que se fazem actualmente nos EUA e a fotografia não pára
de me espantar, de cada vez que (re)vejo um filme de von Trier.
O Reino era originalmente uma mini-série de televisão,
mas um subsídio do Instituto Dinamarquês de Cinema
pagou, e em boa hora, a passagem para 35mm.
Sendo a quarta longa-metragem de Lars von Trier, 'O Reino' vai
buscar a 'O Elemento do Crime' (1ª das suas longas metragens)
os elementos técnicos, desenvolvendo-os quase à
perfeição e a 'Epidemia' (2ª) a temática
ciência vs. superstição, tradição
vs. tecnologia, bem vs. mal. As quatro horas do filme (exibido
na TV2, até ontem, no formato original de mini-série)
não pesam, muito pelo contrário - a ligação
hospitais e fantasmas, dois pilares de respeito no subconsciente
individual e colectivo, é a fórmula certa para
apanhar o espectador numa rede alternada de divertimento, medo,
terror, pesar e espanto, capacidade que o dinamarquês fará
chegar ao zénite em 'Os Idiotas', quatro anos mais tarde.
Um realizador que é um verdadeiro 'autor', numa era de
indústria cinematográfica e de produtos para consumo
rápido e digestão fácil e um filme que é
ao mesmo tempo um marco na história da televisão
europeia. O que é se pode pedir mais? |