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Comissão de residentes do Bairro Municipal ainda não desistiu
Queremos a nossa piscina

POR IVONE FERREIRA
        E MARIANA MORAIS

Dois meses passados após o início de construção de um imóvel sobre o Poço Grande, a comissão de residentes ainda não desistiu de ver os seus objectivos cumpridos. António Duarte Ferrão, presidente do Grupo de Educação e Recreio Campos Melo, adiantou ao Urbi que não vai desistir facilmente de ver cumprida a promessa feita por Carlos Pinto em 1998.


A recuperação do Poço Grande não passou de uma miragem. A promessa de Carlos Pinto, feita em 1993, na presença do Delegado do Indesp, Mirandela da Costa, e renovada em 1998, no Jantar de aniversário do Grupo Campos Melo "foi uma promessa não cumprida". Em 1993, Mirandela da Costa aconselhou o Presidente da Câmara a comprar o Poço Grande. O delegado prometeu assegurar o financiamento da recuperação da antiga piscina mediante projecto a elaborar. Em Abril de 2000, eis que começa a construir-se um imóvel sobre o Poço, frustrando as esperanças dos moradores de ver a piscina em funcionamento. Os residentes do Bairro Municipal responderam unindo-se numa comissão com a finalidade de impedir a construção.
António Ferrão, presidente do GER Campos Melo e da Comissão de Residentes, ficou surpreso com a rapidez da venda, dado que o argumento apresentado por Carlos Pinto para o adiamento da compra do Poço Grande foi a dificuldade em reunir os três proprietários. A obra é licenciada pela Câmara e avança sem que qualquer justificação seja apresentada aos moradores do Bairro Municipal. O Urbi tentou ouvir o parecer da Câmara sobre o assunto e a resposta da parte do vereador João Esgalhado foi "tudo o que havia a dizer sobre o Poço Grande já foi dito. Nada mais há a acrescentar".

Uma piscina prometida

Os moradores da Rua de São Sebastião cresceram com a presença do Poço Grande no seu quotidiano. No princípio do século, por necessidade de abastecimento de água a uma fábrica de lanifícios, foi construído o Poço Grande com a finalidade de fornecer um caudal de água constante à empresa. As corridas com barcos de madeira faziam as delícias da criançada que encontravam neste poço um espaço aliciante para as suas brincadeiras
Dada a inexistência de uma piscina na Covilhã, a família Campos Melo, proprietária do poço e da fábrica que ele servia, pensou noutra utilidade para o mesmo. Com a colaboração da Câmara Municipal, construíram-se bancadas, balneários, torre de saltos, cordas com bóias para aprendizagem. Baptizou-se o recinto com o nome de Clube Desportivo da Covilhã. Nos anos 30, a piscina viveu momentos áureos com a realização de um campeonato nacional de natação. Nos anos 50, o recinto era frequentado por todas as classes sociais.
As crises do sector têxtil fazem-se sentir. A fome provoca o desespero de muitas famílias levando ao suicídio de alguns operários no Poço Grande. "Na minha memória paira ainda a lembrança de alguns desses casos e a forma como as vítimas foram encontradas", conta António Ferrão. Com estes acontecimentos as pessoas deixaram de se banhar na piscina e já eram praticamente só os miúdos que, à revelia dos pais, ali aprendiam a nadar.
Como nenhuma instituição se preocupou com a sua manutenção, o Poço Grande começou a morrer lentamente. O despejo de detritos no local foi aumentando, provocando a poluição, sem impedir, no entanto, a principal actividade do poço, o abastecimento de água à fábrica. O GER começa a interessar-se pela piscina que, entretanto, é vendida a três proprietários.
Em 1993, data da inauguração do piso do poli-desportivo do Grupo Campos Melo, o Delegado do INDESP aconselha o presidente Carlos Pinto a comprar a antiga piscina. O financiamento ficaria assegurado. Em 1998 Carlos Pinto confirma o desejo de fazer ali algo construtivo e ao serviço da população.
Em Abril deste ano, um imóvel começa a surgir naquele espaço, perante a surpresa dos habitantes do bairro. A constituição de um grupo de moradores não conseguiu impedir o prosseguimento das obras. António Ferrão, presidente da comissão de residentes, ainda não desistiu de ver o Poço Grande, a funcionar como piscina. "O mês de Agosto é um mês de férias mas em Setembro vamos ver o que pode ser feito. Ainda não perdemos as esperanças que o passado do Bairro Municipal, as suas tradições sociais e humanas não sejam esquecidos", declara António Ferrão.

 

 

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