por catarina
moura |
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Em O Amante, Marguerite Duras transporta-nos à Indochina
e aos seus quinze anos. A um tempo que começa com a travessia
de um rio. Uma travessia sem retorno, plena de simbolismo, que
abandona a criança numa margem e entrega a jovem nos braços
da estranha vida que a aguarda na outra.
No convés de um barco há uma figura que se destaca.
Não será só pelo vestido de seda natural,
muito decotado, quase transparente, preso na cintura por um cinto
de couro preto. Nem sequer pelos sapatos de lamé dourado.
É o chapéu de homem que chama a atenção,
que anima o conjunto, que provoca. Nenhuma mulher usava chapéu
de homem naquela altura. Muito menos uma menina. Uma menina a
quem o chapéu de abas direitas e fita preta transforma
em objecto de desejo aos múltiplos olhares masculinos
que a rodeiam. Desejo que a sua pele branca desarma e proibe.
Nesse mesmo barco segue o chinês rico que vai ser o seu
primeiro amante. O chinês a quem a jovem pobre vende o
corpo e recusa a alma, subjugada ao preconceito herdado de uma
família fechada, fria e incapaz de amar. Quando aos 18
anos parte para Paris, apercebe-se tarde demais que o amor físico
contaminara afinal a sua alma virgem. Muitos anos depois, é
a nós que confia o seu segredo, numa magnífica
narrativa autobiográfica que lhe valeu o Prémio
Goncourt, em 1984.
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