YOU are
watching Big Brother
POR CATARINA MOURA
Além do nome, o Big Brother
de George Orwell e da TVI têm em comum o desejo geral de
que ambos nunca ultrapassassem o domínio da ficção.
Infelizmente, o segundo já é uma realidade em vários
países e prepara-se para o ser também em Portugal.
Já muito se disse e, certamente, muitos serão ainda
os Velhos do Restelo a erguer as suas vozes proféticas
sobre o prgrama. No entanto, mais que nas questões moralistas,
há que pensar no que este Big Brother diz sobre nós.
Sobre quem concebeu o programa. Sobre quem o exibe. Sobre quem
nele participa. E, sobretudo, sobre quem o vê.
Não tenho a mínima dúvida que será
um sucesso desde a primeira edição e que rebentará
com todas as escalas de audiência, subjugando multidões
tal como o fez o personagem de Orwell. Os espectadores e esta
vontade tão tipicamente humana de devassar a vida alheia,
esta curiosidade que nos move para os outros, este "voyeurismo"
lícito e permitido, é que devem ser questionados,
pois qualidade já sabemos que não tem.
No fundo, o que este programa oferece é a possibilidade
de o homem e a mulher comum se reverem no ecrã, no melhor
e no pior. E de rirem e criticarem e bisbilhotarem sem a culpa
de o estarem a fazer.
É importante reflectir não só sobre a ética
de quem faz mas também sobre a de quem vê. Porque
as motivações dos primeiros não são
bonitas mas são claras: dinheiro. Mas o que move os segundos?
Que dizer da pessoa que, em casa, não resiste a bisbilhotar,
a deliciar-se com a exposição máxima da
vida alheia? É profundamente triste ver milhões
de pessoas a compensar desta forma doente o desinteresse das
suas próprias vidas. Acaba assim um século, mergulhado
no mais absoluto vazio de conteúdos e princípios.
Que será de nós se, além de questionarmos,
não começarmos a agir?
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