Museu em Belmonte e centros
de documentação na Covilhã e na Guarda
Em memória
do judaísmo português
Em 2002, Belmonte terá
um museu dedicado à presença judaica na região.
Um espaço complementado com dois centros de interpretação,
a instalar na Covilhã e na Guarda. Uma obra da Região
de Turismo da Serra da Estrela, que vem dar continuidade a um
projecto nacional de redescoberta e divulgação
da memória do judaísmo português.
A ideia de criar um museu na Beira Interior dedicado ao judaísmo
faz sentido se pensarmos que seria uma forma de tributo prestado
pela região do País onde os judeus sofreram maior
repressão por parte da Inquisição. Faz ainda
mais sentido se ficar localizado em Belmonte, onde há
cerca de duas décadas se revelou existir uma comunidade
judaica com cerca de 300 membros.
O museu chamar-se-á Samuel Schawzr, em honra do judeu
que, em 1939, adquiriu a antiga sinagoga de Tomar para aí
instalar um museu judaico. O projecto deverá estar pronto
em 2002, tem já assegurado um financiamento de cerca de
um milhão de contos e contempla a criação
de centros de interpretação local na Covilhã
e na Guarda.
O dinamizador da ideia é o presidente da Região
de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), Jorge Patrão, que
garante não só o seu financiamento, através
do Quadro Comunitário de Apoio, como o apoio das autarquias
para a instalação dos espaços museológicos.
A motivação de Jorge Patrão é quase
exclusivamente turística. O seu objectivo é criar
uma "rota do judaísmo" na Beira Interior, que
associe o museu a todo um itinerário turístico
e a outras "rotas" que pretende revitalizar, tais como
a dos castelos de fronteira, a das aldeias históricas,
a dos descobridores e a da lã.
Para concretizar o projecto, o presidente da RTSE conta com a
sapiência de Antonieta Garcia, uma estudiosa da vida e
história das comunidades judaicas da Beira Interior, autora
de vários livros sobre o assunto. A investigadora está
a desenvolver o conceito dos centros da Covilhã e da
Guarda, que define como centros de documentação
onde o visitante poderá encontrar uma imagem do que foi
a vida judia na respectiva comunidade. Uma vez que estes grupos
conviviam directamente com outras comunidades locais, ganhavam
especificidades que surgiam desse contexto e que os distinguiam
uns dos outros. Um dos objectivos dos centros será ajudar
os visitantes a compreender essas especificidades. Por outro
lado, a organização dos temas deve estar feita
de modo a que a visita de um centro desperte o interesse de conhecer
os outros.
Comunidade judaica quer museu
em Lisboa
Também em 2002, a comunidade
judaica lisboeta espera igualmente ter o seu museu. A ideia vem
sendo adiada há alguns anos, mas as condições
para a sua concretização parecem finalmente reunidas.
Faltava o local, que Ester Mucznik, dirigente da comunidade israelita
e grande dinamizadora do projecto de criação deste
museu, acredita ter encontrado junto à sinagoga de Lisboa.
A sinagoga Shaaré Tikvá (Portas da Esperança),
um projecto arquitectónico de Ventura Terra, vai ser restaurada
pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, de modo a celebrar em grande o seu centenário,
que completa a 25 de Maio de 2002. Este facto levou a comunidade
judaica lisboeta a considerar a hipótese de erguer um
museu no espaço anexo à sinagoga. Para isso, esperam
a colaboração financeira não só da
comunidade como do Governo e da autarquia.
A comunidade judaica reconhece que se todas as peças actualmente
dispersas pelos sótãos das várias famílias
viessem a ser reunidas, criar-se-ía um dos museus de história
e religião judaica mais interessantes e significativos
da Europa. Interesse esse complementado com a vizinhança
da sinagoga, com as suas festas litúrgicas e cerimónias
religiosas.
O roteiro do judaísmo português passa ainda por
Tomar, onde se encontram depositadas as peças arqueológicas
e artísticas mais significativas da presença judaica
no nosso País antes da expulsão em 1496 e da conversão
forçada ao catolicismo no ano seguinte; e por Faro, local
onde aportaram os primeiros judeus que, no princípio do
século XIX, regressaram à sua nação,
graças à revolução liberal e ao fim
da Inquisição.
Beira Interior, Lisboa, Tomar e Faro completam assim um percurso
que oferece as várias facetas da herança judaica
espalhada por Portugal.
|