Imigrantes a prazo
Por Anabela
Gradim
Os números são
catastróficos: a natalidade na Europa, Portugal incluído,
caiu a pique nos últimos anos, e nada parece eficaz para
inverter o problema. Consequências? Já as há,
bem visíveis no discurso político, que há
uns quatro anos explicava impávido e sereno a absoluta
necessidade de fechar as fronteiras europeias à imigração
- na altura especialmente africanos e magrebinos - e agora,
com a mesma serenidade, defende exactamente o oposto. É
que já hoje é perfeitamente visível a falta
de mão de obra para desempenhar certas tarefas, e a breve
trecho é a própria solvência dos sistemas
europeus de segurânça social que estará em
causa.
E os imigrantes dão sempre jeito. São baratos,
pagam impostos e, acima de tudo, já vêm prontos
para trabalhar. Nada de cuidados neo-natais, custos com saúde
materno-infantil, aulas de inglês, vacinas, escolarização,
internet grátis, abono de família, cartão
jovem operação às amígdalas e actividades
de ocupação dos tempos livres, que são alguns
dos custos de um europeu durante as duas primeiras décadas
de vida. Os imigrantes não se queixam de falta de assento
na universidade, dispensam a rede de pré-escolar e já
tiveram varicela. Tudo azul? Pois venham eles, poder-se-ia dizer.
Mas eis que Portugal descobre atónito que os imigrantes
se reproduzem, e que esses filhos são portugueses. Descobre
ainda que a falta de integração e a ghettização
resultam, nesta segunda geração, em explosões
de violência e num tipo novo de criminalidade que não
pode ser tolerada. Da situação de insegurança
que se vive presentemente à tensão racial e a reacções
xenófobas vai apenas um passo.
No meio desta bicudíssima situação o que
faz o poder político? Descobre o ovo de Colombo e propõe
um regime de imigração que prevê autorizações
de residência de cinco anos absolutamente improrrogáveis.
No final dos cinco anos, o trabalhador é simplesmente
devolvido à procedência, prole incluída,
supomos. É absolutamente perfeito: os estrangeiros cedem-nos,
agradecidamente e de chapéu na mão, como convém,
cinco anos da sua vigorosa juventude, e, antes que comecem a
dar problemas - devolvem-se, pura e simplesmente. Não
receberão cá reformas, não hão-de
colorir de filhos as nossas escolas, e dispensam cuidados de
geriatria. Tudo lucro, portanto. O pior é que o ócio
e a ausência de carências materiais tendem a criar
em alguns humanos a ilusão de que abandonaram há
muito a natureza de dentes e de garras donde provêm, e,
pasme-se, até mesmo um esboço de consciência.
Ter-se-ão perguntado quantos portugueses querem viver
num país que trafica carne, ou habitar casas construídas
por criaturas a quem apenas compramos os melhores anos das suas
vidas?
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