Clique aqui para regressar à Primeira Página



 

 um Livro
 

 
poderemos nós encarar o acidente de automóvel como o sinistro presságio de um casamento dantesco entre o sexo e a tecnologia? Irá a tecnologia moderna fornecer-nos os meios de explorar as nossas próprias psicopatologias, tornando possível tudo aquilo que até agora não nos atrevíamos sequer a conceber?
 

 

Crash propõe-nos uma vida sem cinto de segurança. Desafiando todos os limites, J. G. Ballard, o escritor, explora a imagem do automóvel como metáfora de um vortex devorador, que atrai para si todos os fragmentos que compõem a narrativa. Fragmentos de vida que só ganham corpo e nome na relação que mantêm com este elemento alegórico a um século XX dominado pela omnipresença da técnica e pelo vazio por ela escavado no seio do real.
Vaughan é uma criatura estranha que reúne em seu redor uma comunidade cujo vínculo comum é o fascínio pelo acidente de automóvel. Quando James Ballard, o narrador, sobrevive a um violento choque, vê-se arrastado para este mundo enigmático e envolvente. Com ele segue Catherine, a quem une uma melancolia que os vai arrastando para o abismo.
Em Crash tudo é fatalidade. O acidente. O choque. A morte. A salvação. E novamente, como num ciclo vicioso, a intensa e incessante repetição do acidente. Vida, sexo, desejo, fluem do choque entre automóveis como a vida do útero. E a forte imagética de Ballard, o escritor, explode com violência diante dos nossos olhos despreparados. Mas a que violência nos introduz o universo de Ballard? Qual o verdadeiro choque? Crash atinge-nos não pelo que diz mas pelo que sugere. Pelo que revela dos nossos limites. Limite do corpo, da velocidade, da dor, da vida, da perfeição. Maior que a violência física só a consciência desse limite que impede a fusão com o inorgânico, só a frustração perante a sua impossibilidade, perante a dificuldade de conseguir o acidente absoluto.
 
 

 

 [ PRIMEIRA PÁGINA ]