Matrix
A busca da alma
por Luís
Nogueira
Quando um filme
deixa uma pergunta urgente e suspensa, é um bom filme
com certeza. Se não apercebemos o alcance total dessa
pergunta, torna-se um grande filme. Matrix é isto mesmo:
uma grande questão. Se prestarmos atenção,
no filme dos irmãos Wachowski semeiam-se incertezas, plantam-se
inquietações, cultivam-se mistérios.
O que inquieta neste filme é a vida. Como a não
conhecemos. As formas em que a vivemos. Os enganos e as verdades
e os sonhos que afinal podem ser o seu inverso. Mas mostra mais
esta obra visionária: desmonta alguns conceitos, estilhaça
algumas certezas. Real, virtual, imagem, corpo, matéria,
mente, informação, identidade, tudo é suspeito,
tudo tem o seu negativo. É, mesmo que não o pareça,
um filme filosófico. Sem dúvida. Por baixo do visual
estilizado, da estética manga, das artes marciais, das
citações de video-jogos, de fábulas e de
oráculos, da violência, há algo que nos perturba:
quando e como deixamos de saber o que tocamos, o que possuímos,
o que somos? Isso que nos perturba é o que foge às
respostas. O mundo de Matrix é um mundo redesenhado, eventual.
É uma especulação sobre os artefactos, as
sensações, as extensões do homem, os limites
que o definem, os espectros que o materializam, os bits do conhecimento.
Pergunta-se em Matrix sobre a dimensão mais profunda de
nós. Ousadamente, e com simplicidade. E porque sabemos
que - seja tal o que for - aquilo que nos abre e fecha para a
vida é a alma, então talvez consigamos perceber
onde devemos procurar as respostas para Matrix: nessa extensão
que liga o divino e o humano: o eu e os seus mistérios.
E as utopias, os messias, os pesadelos, a common people, as tiranias,
as tecnologias que o enredam.
|