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Carlos Miguel Taborda Xistra nasceu na Covilhã a 2 de Janeiro de 1974. Iniciou a sua carreira desportiva como atleta das camadas jovens do Sporting da Covilhã na temporada de 1986/87. Nesse ano participou na 2ª fase do Campeonato Nacional e foi convocado para a selecção de sub -13 da Associação de Futebol de Castelo Branco (AFCB).
Na época seguinte transferiu-se para a ADE, onde se manteve até 1992. Ao serviço do clube da Estação foi Campeão Distrital, participou em três Campeonatos Nacionais, e chegou a capitão da Selecão da AFCB.
Em 1993, depois de ter sido Campeão Distrital de Futsal pelo GD Mata, frequentou e concluiu o curso de árbitros "José Farromba".
A temporada de 1993/94 marca o início da sua actividade como árbitro. Começa na I Categoria Distrital e, em dois anos, consegue a promoção ao terceiro escalão nacional. Oito anos e muitas homenagens depois, Xistra é promovido à I Categoria Nacional depois de se ter classificado em terceiro lugar na lista do escalão anterior.
 


Carlos Xistra
"Ninguém quer ser árbitro"

POR ALEXANDRE S. SILVA*
FOTOS SÓNIA ALVES


O juiz covilhanense, consegue, ao fim de oito anos, a promoção à I Categoria Nacional. Manter-se e afirmar-se são os primeiros objectivos, a Europa "logo se vê".

Notícias da Covilhã- Que balanço faz da última época?
Carlos Xistra
- Correu bem. Aliás, depois de acabar em terceiro numa lista com 52 nomes, quando só cinco são promovidos, não me posso queixar.
Há já três anos que ando a lutar para subir à I Categoria. No primeiro ano passaram-se coisas estranhas e no segundo tive que me sujeitar a operações a duas hérnias. À terceira tinha que ser de vez.

NC- Foi jogador nas camadas jovens do Sp. Covilhã e da ADE. Depois de já ter sido advertido e, até, expulso, mudou-se para o outro lado do apito. Essa fase de jogador foi importante para a sua carreira enquanto árbitro?
C.X.
- A minha passagem pelo futebol como atleta foi crucial, pois permite-me saber como se comportam os jogadores durante uma partida. Isso deixa-me em vantagem à saída para um jogo.
Na minha opinião qualquer árbitro que já tenha passado pela competição, como atleta, tem mais hipóteses de singrar depois na arbitragem.

NC- Enquanto jogador, algum dia pensou em tornar-se árbitro e chegar onde está hoje?
C.X.
- Nunca me passou pela cabeça. Infelizmente só vem para a arbitragem quem é puxado para ela. Ninguém diz: "Quero ser árbitro". Só por influências de familiares ou amigos é que somos apanhados.
Na época 1992/93 o Francisco Fernandes, que na altura era árbitro da terceira categoria nacional, pegou em mim e mais cinco rapazes lá do bairro e fomos tirar um curso da Associação de Futebol de Castelo Branco (AFCB). Só eu é que fiquei até ao fim.

NC- Qual o grau de dificuldade de arbitrar nas categorias mais baixas?
C.X.
- É muito complicado. Principalmente em termos de formação de todos os intervenientes que rodeiam o espectáculo, sejam jogadores, treinadores, dirigentes ou o público.
Nas I e II Categorias o tipo de futebol é mais desenvolvido. Os jogadores dão menos trabalho porque são mais profissionais. Interessam-se mais em jogar futebol do que em envolver-se em picardias, como acontece nos Distritais. Cada vez dou mais valor a esses árbitros.

NC- Espera mais dificuldades e responsabilidades na I Categoria?
C.X
.- Naturalmente. Não só porque estamos a ser observados pela comunicação social, mas porque, fisicamente, os jogos são mais exigentes. Os conhecimentos teóricos terão que ser forçosamente muito maiores para corresponder às exigências que nos colocam todos os domingos.
Ao nível da I Liga a maior parte dos clubes são Sociedades Desportivas. Grupos económicos cujos lucros dependem dos resultados. Nós, como intervenientes no jogo e, às vezes, no marcador, temos que trabalhar muito para que não nos associem a uma eventual crise de resultados da equipa.
Eu sei que as dificuldades vão aumentar, mas a única coisa que prometo é trabalho e dedicação para estar pronto a responder às exigências.

Manutenção, afirmação e luta pela Europa

NC- É o primeiro árbitro da AF Castelo Branco a ascender à primeira categoria. Acha que a interioridade pode afectar a carreira de um árbitro?
C.X.
- Já ando na arbitragem há oito anos e, se olhar à minha própria progressão, não posso dizer que isso seja uma realidade.
Acredito que o facto de estarmos afastados dos grandes centros limite, de certo modo, a carreira de um árbitro, mas isso não é o factor mais determinante.

NC- Qual é, então?
C.X.
- O problema da arbitragem é muito complicado. Em primeiro lugar temos que estar diariamente atentos a todos os problemas do mundo da arbitragem. Em segundo está o trabalho e a dedicação que cada um põe na actividade.
Eu sou o primeiro crítico dos árbitros que militam nos Distritais da AFCB. A grande maioria deles não se dedicam o suficiente, ou porque não querem sair da região, ou porque não têm objectivos. Logo, não podem colher os frutos do trabalho que não produzem. Sei que não é fácil, mas com um pouco mais de esforço e interesse, esses árbitros poderiam progredir para outras categorias.

NC- Com apenas 26 anos, quais são os seus próximos objectivos?
C.X.
- Isto funciona um pouco como as próprias equipas de futebol, ou de outra modalidade. Quando se sobe de categoria, o principal objectivo é manter a posição. O que já não vai ser fácil, uma vez que para o ano vão descer, provavelmente, 10 árbitros, ao contrário dos cinco de anos anteriores.
De qualquer modo estou apostado em dar o meu melhor todos os domingos e lutar para algo mais que a manutenção. Caso consiga afirmar-me na I Categoria o próximo passo será, naturalmente, lutar pela Europa. Mas isso ainda vai demorar muito.

"Em Portugal não há protecção ao árbitro"

NC - Como classifica o estado da arbitragem em Portugal?
C.X.
-A nível nacional a classe está a ficar mais credibilizada. Cada vez menos o público pensa que o árbitro beneficia ou prejudica qualquer equipa.
Por outro lado há dirigentes que, durante a semana, se preocupam mais com o árbitro que vai dirigir o encontro do que com a preparação da própria equipa.

NC - A passagem do Conselho de Arbitragem para a Liga Portuguesa de Futebol Profissional foi benéfica?
C.X. -
Desde que o futebol começou a ser gerido pela Liga as coisas melhoraram consideravelmente. Isto porque o Conselho de Arbitragem é constituído por três ex-árbitros que têm mais sensibilidade para os problemas inerentes à profissão.
Por outro lado, há a desvantagem de serem os clubes a decidir o futuro da arbitragem.

NC - Acha que a arbitragem se devia profissionalizar?
C.X. -
Acho que seria um passo muito importante e necessário para a credibilização da classe.
O futebol é, agora, um negócio. Os clubes são sociedades desportivas com interesses económicos. Torna-se necessário que a arbitragem acompanhe esta evolução. Um clube ou uma SAD não podem estar dependentes de uma pessoa que, de segunda a sexta-feira, tem oito horas de trabalho pela frente e tem mais duas de treino. O árbitro pode até estar preparado para dirigir o jogo ao domingo, mas é evidente que se tivesse mais tempo disponível para se preparar durante a semana, quer em termos físicos, psicológicos ou teóricos, o seu rendimento seria bastante superior. Num jogo que envolve milhares de contos, o desfecho pode estar dependente da única pessoa que, no meio daquilo tudo, não é profissional.

NC - A nível interno há muita contestação e desconfiança em relação à profissão. No entanto, no estrangeiro, a arbitragem portuguesa está bem cotada. Vítor Pereira acabou por ser considerado um dos melhores árbitros do Euro 2000.
C.X. -
É verdade. Mas isso não se deve ao facto do Vítor Pereira arbitrar melhor no estrangeiro que em Portugal. Deve-se essencialmente a uma protecção que a maior parte dos países europeus fazem ao trabalho do árbitro.
Veja-se, por exemplo, no último Europeu, em que, por imposição das federações holandesa e belga, os lances não eram repetidos na televisão mais que duas ou três vezes. Isto só é bom para a modalidade, uma vez que os espectadores estão mais interessados no desenvolvimento dos lances do que, propriamente, na decisão do árbitro.

NC - Mas não há situações em que um mau julgamento do árbitro influencia o resultado?
C.X. -
O árbitro é apenas um homem e erra como qualquer outro. Eu não sou contra a análise de lances, até porque é necessário confirmar se houve um erro ou não. Não se pode é pôr em causa a integridade do árbitro.
Em Portugal persiste a mentalidade de que, quando um árbitro erra, é de propósito. Os lances são comentados até à exaustão durante semanas nos órgãos de comunicação social e isso não abona nada em favor do espectáculo. No entanto, acho que as coisas estão a mudar, e as pessoas começam a acreditar cada vez mais no árbitro. Tenho a esperança que o Euro de 2004 dê a machadada final nesse tipo de preconceitos.







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