Princess Mononoke
é uma agradável surpesa nas salas de cinema portuguesas.
Fará a Covilhã parte de Portugal?
Apesar de já ter 3 anos, só agora é que
passa nas nossas salas aquele que foi um dos maiores sucessos
de bilheteira no Japão lá atrás em 97, ao
ponto de ter tantos espectadores como o Titanic. Teve que ser
a Miramax, pela mão de Quentin Tarantino, a comprar o
filme e a dobra-lo (argh!) em inglês para que esta pérola
japonesa de anime surgisse no ocidente.
Adiante.
Este filme de animação (bonecos, para quem ainda
não sabe que lá porque é desenhada nada
impede que uma obra seja também ou até só
para adultos) narra o confronto milenar entre a natureza e o
ser humano, de um modo tipicamente japonês. Não
é de estranhar, aliás, na medida em que esta história
é apenas uma mescla de um conjunto de lendas da tradição
nipónica que relatam o avanço do poder humano sobre
a natureza e o modo como esta se defende. Tal noção
está de tal modo enraizada no povo japonês que se
torna simples compreender vários dos aspectos culturais
e sociais do país de uma acentada: o gosto pelo reducionismo,
visível sobretudo na arte milenar dos bonsai, o respeito
pela natureza e a vontade de a preservar, com o receio de deixarem
de ter espaço para viver num arquipélago tão
pequeno para tanta gente, o espírito guerreiro e o fascínio
com o sobrenatural. Este conjunto de factores levou à
criação de lendas (e depois de produtos como filmes,
séries etc.) tão dístantes na forma mas
tão próximos no conteúdo desta Princesa
Mononoke como seja a lenda de Godzilla, o monstro criado pela
ganância humana e que vinga a Natureza rebentando com a
Baixa de Tóquio.
Mas centremo-nos de novo no filme, pois se começamos a
falar do Japão...
A animação japonesa (anime e não manga,
manga significa apenas banda desenhada) é conhecida pelo
rigor e excelência na criação dos fundos
e cenários ao ponto de se tornar, em certos filmes, díficil
de crer que não estamos perante fotografias ou imagens
reais. Esta Princesa Mononoke não é excepção
- com paisagens luxuriantes e efeitos de sombras, fumo, humidade
e nevoeiro imensamente realistas e incrivelmente complexas o
filme torna-se um regalo para a vista. No entanto, e seguindo
da mesma maneira a tradição anime japonesa, os
personagens são marcadamente bonecos o que torna o filme
até confuso na medida em que parece que estamos perante
um mundo real habitado por bonecos. Um roger rabbit de há
500 anos atrás.
Esta característica/defeito da animação
japonesa é omnipresente no que já pude ver, excepção
feita ao colossal Ghost in the shell, uma verdadeira obra prima
do cinema mundial com bonecos a terem mais dimensão psicológica
que boa parte das personagens desempenhadas por pessoas de carne
e osso.
Uma nota triste para o facto do filme ser dobrado. O trabalho
está muito bem, é certo, ao ponto de mal se notar
a diferênça boca - voz, mas o que é certo
é que som real na língua original é que
é, até porque a sonoriedade inglesa (americana)
empalidece perante a riqueza sonora da língua japonesa.
Mas enfim, são produtos e nós somos consumidores,
por isso é calar e comer. |
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