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Chá
e amor
por
catarina moura
DOIS AMANTES,
DEITADOS NUM TERRAÇO À BEIRA DE UM JARDIM, OS ROSTOS
PERDIDOS UM NO OUTRO, ENVOLTOS EM SUAVES QUIMONOS ESTAMPADOS
SOB OS QUAIS SE ADIVINHAM OS SEUS CORPOS NÚS. TUDO É
MISTÉRIO, SUBTILEZA, SEDUÇÃO. |
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O pintor conduz-nos
à intimidade do casal mas deixa-nos à janela, a
espreitar, como a árvore ao fundo. Explora o nosso voyeurismo,
deixa-nos prisioneiros, mas não cede um milímetro
que seja para satisfazer a nossa curiosidade.
"O Poema da Almofada" é um dos melhores álbuns
eróticos de Kitagawa Utamaro. É nesse álbum
que podemos encontrar "Amantes".
Mestre da xilografia, Utamaro é o primeiro artista japonês
a conseguir seduzir o Ocidente. O seu estilo é uma lufada
de ar fresco na Europa do século XIX, ávida de
novas perspectivas e formas de expressão.
Os quadros de Utamaro encontram-se entre as mais eloquentes expressões
da beleza feminina nipónica. O seu álbum mais famoso,
"Figuras de Mulheres", faz dele o grande pintor da
mulher japonesa do século XVIII, captada nos cenários
e ambientes das casas de chá de Edo (hoje Tóquio),
onde se moviam e ganhavam vida. Ao longo de pouco mais de uma
década, as suas ilustrações narram o mistério
da mulher japonesa, feito de rostos brancos, quimonos esplendorosos,
sorrisos discretos, olhares furtivos, gestos sugeridos. Um mistério
chamado gueixa - a mulher que ninguém conhece e cujo rosto
de gesso erra pelas fantasias masculinas ocidentais. Utamaro
foi o portador dessa fantasia.
Trocando a temática religiosa por motivos naturais e do
quotidiano, Utamaro é inovador e desafiante ao substituir
o naturalismo simbólico, de origem chinesa, pela observação
directa da realidade. Essencialmente colorista, chega a sugerir
apenas com a cor as figuras dos seus modelos, o seu volume, o
seu peso, desprezando linhas e contornos, tão característicos
da tradição japonesa, que prima pela minúcia
do desenho. O lirismo e a fluidez das linhas que constroem as
suas imagens definem elegantemente as formas, que ganham volume
não pela sombra ou profundidade mas pelo jogo de cores
que as preenche.
Em 1804 é preso por retratar Toyotomi Hideyoshi, uma importante
figura histórica japonesa, de forma considerada desrespeitosa
pelas autoridades. A prisão não foi longa mas a
sua energia criativa desvaneceu-se. Morreu dois anos depois. |
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